O Ministro da Educação afirmou segunda-feira que as escolas terão autonomia para definir os critérios de avaliação do 2º período a realizar dentro duas semanas. Citando o Ministro, escolas têm “maturidade suficiente para entender como querem fazer a avaliação dos seus alunos”.
Fiquei satisfeito com este reconhecimento público do Ministro
da Educação relativo à “maturidade” (queria mesmo dizer maturidade Sr.
Ministro?) das escolas para avaliar os seus alunos, registe-se a confiança.
Aliás, o Ministro até afastou a hipótese de emitir orientações. Claro que não são
necessárias, a maturidade das escolas permitirá definir o que há a definir no
processo de avaliação deste atípico 2º período.
É certo que as escolas estão submersas em modelos,
plataformas, grelhas, protocolos, dispositivos que o empenho de algumas
direcções amplia criando uma insuportável burocracia de que, finalmente, atingida
a maturidade terão oportunidade de se libertar.
Mais a sério, desculpem a deselegância da ironia, mas boa
parte das intervenções do Sr. Ministro da Educação sempre me causam este feito.
Felizmente também não são muitas, é um Ministro discreto.
Também me parece que não podia ser de outra forma, a
disparidade de situações nas escolas é imensa.
Essa disparidade, reflectiu-se na forma, por exemplo, como
as escolas organizaram o ensino não presencial considerando aspectos como a
duração das actividades síncronas, natureza das actividades propostas, sempre
iguais às que seriam realizadas em modo presencial ou ajustadas a circunstâncias
diferentes, a preocupação de “dar o programa” como se estivéssemos na sala de
aula ou acomodar outras abordagens, etc.
Por outro lado, como foi muito enfatizado desde o fim do
ensino presencial, as dificuldades nos recursos e as desigualdades entre alunos
continuaram a atormentar muitas crianças, sobretudo as mais vulneráveis.
Acresce que bastante mais do que no ano lectivo anterior,
muitos alunos se mantiveram em ensino presencial nas escolas de acolhimento.
Este cenário, não descrito de forma exaustiva, sustenta
claramente a necessidade de que a avaliação seja pensada de forma diferenciada em
cada contexto ou comunidade escolar e de preferência de uma forma simplificada
em processos, registos e dispositivos que não se confunda com “facilitismo”,
mas se reflicta em eficiência e desburocratização.
A avaliação é imprescindível como reguladora em todos os
processos de ensino e aprendizagem e assume contornos particulares conforme os
anos de escolaridade e natureza da avaliação, interna, externa, provas de
aferição ou exames nacionais, sobretudo no secundário devido ao peso que
assumem no acesso ao ensino superior. Acresce no actual cenário a questão da
avaliação não presencial e a forma como poderá ser regulada.
Por outro lado, considerando a situação excepcional creio
que precisamos de nos entender sobre o que avaliar, ou seja, que gestão dos
programas e currículo procurámos desenvolver e com que alunos
Que competências e saberes decorrentes dos conteúdos
curriculares estão a ser adquiridas em função das circunstâncias que acima
referi, uma enorme diversidade nos contextos familiares, nos recursos e
competências disponíveis, a diversidade do trabalho realizado por escolas e
professores em situações múltiplas na natureza, actividades, meios utilizados,
duração, dispositivos de apoio, etc.
O esforço terá sido no sentido do cumprimento “integral” dos
programas ou considerando também outros objectivos? Dependerá dos ciclos
e anos de escolaridade? Qual o equilíbrio entre as actividades mais dirigidas
para a “consolidação” ou as dirigidas para “matéria nova”?
Sim, é necessário avaliar, mas avaliar o quê e como? Avaliar
o que avaliaríamos num cenário de “normalidade” com a adaptação possível de
dispositivos e suportes?
Como regular e promover equidade também na questão da
avaliação.
Já tivemos a experiência do ano anterior, temos desafios
enormes pela frente, as respostas não são fáceis, antes pelo contrário. Neste contexto
importaria, do meu ponto de vista, minimizar o risco da pulverização de
entendimentos sobre o “que fazer” e “como fazer”, ou seja, evitar o
funcionamento em modo “cada cabeça, sua sentença”. Daí, também, a importância
do trabalho colegial ou colaborativo nas escolas que em muitas está aquém do
desejável.
Creio que só assim será potenciado o esforço gigantesco que
professores, pais e alunos estão a desenvolver e a motivação para assim
continuar.
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