Quando foi anunciada a realização pelo IAVE do “Diagnóstico de Aferição das Aprendizagens” primeiro para Setembro e depois para o início de Janeiro, apesar de reconhecer como imprescindíveis os dispositivos de avaliação externa exprimi alguma dificuldade em compreender a sua realização naquela altura, com aquela metodologia, conteúdos e objectivos.
O diagnóstico, contrariamente aos previstos 30000 alunos,
envolveu 12960 alunos do 3.º, 6.º e 9.º anos e incidiu sobre Matemática,
Leitura e Ciências.
Como em Janeiro também referi, os resultados chegariam às
escolas provavelmente depois de Março como parece verificar-se, foram hoje conhecidos.
Sem surpresa, só no 3.º ano mais de metade dos alunos
ultrapassaram o nível considerado elementar nas três áreas em avaliação. No 6.º
e 9.º ano e nas três áreas a maioria dos alunos não atingiu o nível esperado de
conhecimentos elementares.
Que farão as escolas com estes resultados obtidos por amostra
de cerca de 13 000 alunos de três anos de escolaridade durante o terceiro
período? Para além do tempo enorme ainda disponível, poderão inspirar o trabalho a realizar nas escolas de Verão
propostas por um prestigiado grupo de economistas que, sabendo tudo
sobre educação conhecem bem o nosso parque escolar e a temperatura aconchegante
que se atinge a partir de Junho nas salas de aula que permitirá promover o florescimento dos conhecimentos dos
miúdos devido ao efeito de estufa.
Voltando a um registo mais sério.
O maior ou menor impacto nas aprendizagens, por múltiplas razões, é extremamente
diversificado em cada aluno como, aliás, é reconhecido desde o primeiro confinamento
e dificilmente obtido por amostra, pequena e envolvendo apenas alguns anos de
escolaridade, apesar do anunciado estudo, mais um também por amostra, a
realizar em Maio e Junho para os alunos do 2.º, 5.º e 8.º.
Parece-me razoavelmente claro que a diversidade de
situações, o seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis
contextuais relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada
comunidade, as necessidades específicas de muitos alunos, etc. etc. sugerem que
devem ser as escolas a avaliar as necessidades, identificar os recursos
necessários, estabelecer objectivos, definir metodologias e dispositivos de
regulação e avaliação.
Os professores sabem como avaliar e identificar as
dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é necessário é dotar as escolas
dos recursos necessário para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as
dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo,
num rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc.,
são essenciais.
Por outro lado, e como também tenho escrito, seria desejável
que o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em
utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação
a simplificação, professores, alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação
deveria incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto
possível, se aliviasse a pressão “grelhadora” a que habitualmente escolas e
professores estão sujeitos.
Não é por registar, muito, registar tudo, aliás, nunca se
regista tudo pelo que não vale a pena insistir, que o trabalho melhora e o
desperdício é grande.
Como é evidente, este apelo à simplificação não tem a ver
com menos rigor, qualidade, intencionalidade educativa ou não proporcionar
tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes pelo contrário, se
conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores e famílias
beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que realizar e estão a
realizar.
Como tenho escrito já me cansa duvidar ou discordar. Seria
mais tranquilo aplaudir e apoiar as medidas e iniciativas neste meu, nosso
mundo, a educação, mas também faz parte da seriedade e importância que lhe
atribuo.
Também reconheço que os tempos são duros e os
constrangimentos gigantescos para pessoas e entidades limitando a sua
capacidade de resposta.
Provavelmente, estas notas sobre esta iniciativa relevam de
um problema de compreensão ou desconhecimento da minha parte, portanto … desejo
muito que seja útil … se possível.
Sem comentários:
Enviar um comentário