segunda-feira, 29 de março de 2021

"DIAGNÓSTICO DE AFERIÇÃO DAS APRENDIZAGENS", QUE FAZER COM ESTES RESULTADOS?

 Quando foi anunciada a realização pelo IAVE do “Diagnóstico de Aferição das Aprendizagens” primeiro para Setembro e depois para o início de Janeiro, apesar de reconhecer como imprescindíveis os dispositivos de avaliação externa exprimi alguma dificuldade em compreender a sua realização naquela altura, com aquela metodologia, conteúdos e objectivos.

O diagnóstico, contrariamente aos previstos 30000 alunos, envolveu 12960 alunos do 3.º, 6.º e 9.º anos e incidiu sobre Matemática, Leitura e Ciências.

Como em Janeiro também referi, os resultados chegariam às escolas provavelmente depois de Março como parece verificar-se, foram hoje conhecidos.

Sem surpresa, só no 3.º ano mais de metade dos alunos ultrapassaram o nível considerado elementar nas três áreas em avaliação. No 6.º e 9.º ano e nas três áreas a maioria dos alunos não atingiu o nível esperado de conhecimentos elementares.

Que farão as escolas com estes resultados obtidos por amostra de cerca de 13 000 alunos de três anos de escolaridade durante o terceiro período? Para além do tempo enorme ainda disponível, poderão inspirar o trabalho a realizar nas escolas de Verão propostas por um prestigiado grupo de economistas que, sabendo tudo sobre educação conhecem bem o nosso parque escolar e a temperatura aconchegante que se atinge a partir de Junho nas salas de aula que permitirá promover o florescimento dos conhecimentos dos miúdos devido ao efeito de estufa.

Voltando a um registo mais sério.

O maior ou menor impacto nas aprendizagens, por múltiplas razões, é extremamente diversificado em cada aluno como, aliás, é reconhecido desde o primeiro confinamento e dificilmente obtido por amostra, pequena e envolvendo apenas alguns anos de escolaridade, apesar do anunciado estudo, mais um também por amostra, a realizar em Maio e Junho para os alunos do 2.º, 5.º e 8.º.

Parece-me razoavelmente claro que a diversidade de situações, o seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis contextuais relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada comunidade, as necessidades específicas de muitos alunos, etc. etc. sugerem que devem ser as escolas a avaliar as necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer objectivos, definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação. 

Os professores sabem como avaliar e identificar as dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é necessário é dotar as escolas dos recursos necessário para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são essenciais.

Por outro lado, e como também tenho escrito, seria desejável que o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação a simplificação, professores, alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação deveria incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível, se aliviasse a pressão “grelhadora” a que habitualmente escolas e professores estão sujeitos.

Não é por registar, muito, registar tudo, aliás, nunca se regista tudo pelo que não vale a pena insistir, que o trabalho melhora e o desperdício é grande.

Como é evidente, este apelo à simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que realizar e estão a realizar.

Como tenho escrito já me cansa duvidar ou discordar. Seria mais tranquilo aplaudir e apoiar as medidas e iniciativas neste meu, nosso mundo, a educação, mas também faz parte da seriedade e importância que lhe atribuo.

Também reconheço que os tempos são duros e os constrangimentos gigantescos para pessoas e entidades limitando a sua capacidade de resposta.

Provavelmente, estas notas sobre esta iniciativa relevam de um problema de compreensão ou desconhecimento da minha parte, portanto … desejo muito que seja útil … se possível.

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