No Expresso. “(…) os resultados do questionário feito pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre o impacto da pandemia, os diretores das escolas disseram que, entre março e junho do ano passado, não conseguiram contactar com 2% dos alunos para que estes participassem nas atividades letivas online. Já os professores com funções de coordenação não conseguiram manter contacto com 7% dos alunos. (…), “O Ministério da
Educação adianta que alguns alunos não regressaram à escola em setembro. Foram
sinalizados mais 200 alunos do que em 2019”.
De acordo com o JN, em 2020 as escolas sinalizaram às Comissões de Protecção
de Crianças e Jovens 1900 alunos em risco de abandono escolar, mais 200 que em 2019.
Mesmo sem estes dados hoje referenciados em diferentes peças
da imprensa e como aqui escrevi há pouco tempo, com a experiência e
conhecimento, nacional e internacional, já adquiridos, parece inquestionável
que o impacto do encerramento das escolas é fortíssimo, sobretudo nos alunos
mais novos e em diferentes dimensões incluindo a nem sempre suficientemente
considerada saúde mental. Também sabemos que estes efeitos, como sempre, podem
modulados por variáveis de natureza sociodemográficas ou individuais, literacia
familiar ou uma condição de vulnerabilidade, por exemplo.
Tem-se assistido nos últimos dias a um acréscimo de pressão
no sentido de que se retome, ainda que de forma faseada, o ensino presencial,
como também se ouvem, lêem discursos de maior prudência, incluindo subscritos
pela tutela.
No entanto, e tal como tenho escrito, tanto como a
importância do retorno ao ensino presencial e o assegurar eficiente das condições
de saúde, inquieta-me a forma com serão acolhidos nas escolas os alunos neste
novo retorno bem como que apoios estarão disponíveis considerando as referências acima e os mais conhecidos
efeitos nas aprendizagens.
Como também escrevi e só para ilustrar uma parte do problema,
é de recordar, por exemplo que os alunos que estão agora no segundo ano, no ano
lectivo passado, o seu primeiro ano de escola, onde tudo começa em termos de
aprendizagem escolar, literacia, educação matemática, educação científica e
expressões e actividade física, tiveram aulas até ao início de Março, entraram
em modo não presencial com os impactos e limitações reconhecidos, começaram o
segundo ano e no início do 2º período voltam ao modo não presencial. É, para
ser simpático, um trajecto pouco amigável para o sucesso nas aprendizagens
sendo que, como sempre, as desigualdades têm um impacto crítico.
Neste cenário e considerando todos anos de escolaridade,
mas, insisto, sobretudo nos primeiros por razões óbvias gostava de estar
tranquilo relativamente à forma como será gerido o retorno ao ensino
presencial, não basta, “sentá-los” como se voltassem de um intervalo. Tanto
quando as datas, eventualmente menos previsíveis, seria desejável que,
existissem orientações, admito que existam, no sentido da avaliação de
prováveis dificuldades, recordo a situação particular dos alunos no segundo ano
de escolaridade, da definição de apoios e recursos dedicados a esta
“recuperação”.
E para lidar com os resultados dessa avaliação existam os
recursos e dispositivos de apoio competentes e suficientes e não apenas na
dimensão escolar, como a saúde mental que coloca questões críticas nos mais
novos
A proactividade, apesar da complexidade da situação, é mais
amigável da qualidade que a reactividade embora saibamos, temos o exemplo de Março
de 2020, que às vezes há que reagir e avançar. No entanto, temos já experiência
que deveria ajudar a regular o que actualmente vai acontecendo.
Creio que ainda estamos a tempo de apesar das dificuldades
podermos levar a generalidade das crianças e jovens a porto seguro, assim
saibamos e queiramos responder atempadamente e competentemente às suas
necessidades.
Apesar de alguns discursos mais catastrofistas incluindo do
Ministro da Educação, “Sabemos que necessariamente (esta geração de alunos) vão
ter mais problemas de alergologia daqui a 20 anos. Porque vão ser muito mais
obesos. Vamos ter problemas oncológicos, respiratórios, cardiovasculares,
mentais”, assumir a fatalidade da causa-efeito é erro indesculpável.”
Não, os alunos não estão condenados, se as políticas
públicas cumprirem as suas funções, com maiores ou menores dificuldades, como
sempre e em todas as circunstâncias, escolas, professores, directores, técnicos
auxiliares, pais e alunos bem como profissionais de outras áreas como saúde,
psicologia, apoios sociais, etc., farão o que lhes compete.
Correrá sempre tudo bem? Não, estamos no universo da
educação e da educação escolar, num tempo difícil e numa sociedade complexa e
desigual.
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