O texto de Paulo Guinote, “Dia 27 – A Automatização da Docência”, integrado no Diário de um Professor divulgado no Educare merece leitura e reflexão sublinhadas pelos tempos que vivemos.
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Umas notas a este propósito. Estas ideias que de mansinho
vão surgindo e ganhando tempo de antena podem vir a estar associadas a uma trajectória de esvaziamento da função docente e da sua
consequente desvalorização. Deve dizer-se que este movimento não é de agora e
não começou por cá. Tem vindo a fazer o seu caminho em diferentes sistemas,
emergiu na década de 80 sob a designação de “deskilling” promovendo uma concepção
“empobrecida”, diria “embaratecida” do professor e da sua função. Nesta visão,
os docentes cumprem determinações e programas, não têm que fazer escolhas,
possuir conhecimento aprofundado, solidez nas metodologias, valores éticos e
morais, etc. Seria suficiente uns burocratas tecnicamente eficientes na gestão de programas
e dispositivos digitais para “administrar” aulas a grupos de alunos
"normalizados" com base num currículo normativo e prescritivo.
Os professores seriam então basicamente “entregadores de conteúdos”,
(content delivers na formulação original) e realizariam um trabalho burocrático
de avaliação normalizada e centralizada com base em infalíveis algoritmos que
sem falhas ou desvios determinariam o trajecto escolar de uma população
normalizada.
Definitivamente, este não pode ser o caminho. A “automatização
da docência" conduziria a uma “desprofissionalização” que pode tornar os
professores e a educação mais “baratos”, mas o nosso futuro será mais caro por pior
qualidade, um professor de … é muito mais que um bom técnico de …
Todas as necessárias mudanças na educação só podem ocorrer e
ser bem-sucedidas com o envolvimento e valorização dos professores, das suas
competências, da sua função e também, naturalmente, com a sua avaliação.
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