Apesar de já ter sido divulgada há alguns dias um pequeno comentário à entrevista do Professor Nuno Crato ao DN.
Logo no início da entrevista e como seria previsível foi
abordada a questão de como responder à situação de muitos alunos que reconhecidamente
passaram e passam por dificuldades resultantes das situações de confinamento e
de tudo o que esteve envolvido, metodologias utilizadas, recursos das escolas e
famílias, literacia digital das famílias, assimetrias sociais e económicas, necessidades
individuais, etc.
Sobre estas situações e como também já aqui tenho referido, o
primeiro passo é identificar o real impacto verificado nos alunos e isso só os
professores desses alunos com tempo e recursos podem fazer. As situações são
tão diversas e complexas, desde as diferenças individuais, aos anos de
escolaridade e sempre associadas a varáveis como as que referi acima.
O Professor Nuno Crato começa por referir a avaliação desta
natureza e acaba por concluir pela imprescindibilidade da realização de testes nacionais.
Tinha de ser, a paixão de Nuno Crato por exames nacionais, muitoS exames, permanece
e a ênfase que põe na sua defesa transformou, aliás esta proposta, em título da
entrevista por parte do DN.
Certamente que o Professor Nuno Crato, enquanto Ministro da
Educação, não teve tempo para instituir exames nacionais em todos os anos de
escolaridade e até mesmo um exame nacional no fim da educação pré-escolar para
avaliar o estado de “prontidão” das crianças para a entrada na escolaridade
obrigatória. Permanece centrado na crença mágica de que tudo se resolve com a
medida, não com a avaliação que, obviamente, sendo também medir é bem mais do medir.
Para que fique claro, não tenho qualquer dúvida sobre a
imprescindível necessidade de avaliação externa, sem a qual não teremos uma
regulação externa do sistema que contribua para a sua qualidade e equidade.
Mas um teste nacional para avaliar o impacto dos confinamentos
nos trajectos educativos dos alunos? A realizar quando e ao fim de quanto tempo
teríamos resultados e que resultados? O que chegaria às escolas e quando
chegaria às escolas? Trata-se certamente de incompetência ou incapacidade da
minha parte, mas não vejo qualquer utilidade na realização de um teste nacional
nestas circunstâncias. Não é possível medir de forma
normalizada o que não me parece normalizável. A situação exige, como disse, avaliação
cuidada e competente de forma diferenciada, em cada turma, em cada escola.
O que me parece, de facto, necessário entre outros aspectos e
como escrevi há dois dia, é dotar as escolas dos recursos necessário para
minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam.
Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos
de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis,
técnicos, psicólogos, por exemplo, num rácio que possibilite um trabalho
multidimensionado como é exigido, etc., são essenciais.