Era uma vez um rapaz, outro rapaz, chamado Ninguém. Como não será de estranhar no mundo dos Ninguéns, a vida do Ninguém era uma espécie de coisa nenhuma. Bem, na verdade na vida do Ninguém havia uma coisa muito importante, o Avô, as horas que ele passava com o Avô. A família, para além de lhe assegurar a sobrevivência, pouca circunstância representava.
Desde que entrou na escola a vida
do Ninguém não era assim coisa muito interessante. Não conseguia fazer as
coisas que lhe pediam da mesma forma bonita e bem feita que a maioria dos
colegas eram capazes. O Ninguém até se esforçava e achava que às vezes os
trabalhos até estavam bem. Mas nunca lhe diziam isso, quase sempre falavam que
não tinha graça ou que estava errado.
Com o tempo, o Ninguém aprendeu
que não era mesmo capaz de fazer alguma coisa que fosse apreciada e deixava-se
estar no seu canto, sem grandes sobressaltos, assim como se ninguém por ali
estivesse.
Um dia, a Professora Habitual
deixou de aparecer e veio uma Professora Nova. Como não conhecia os miúdos da
turma pediu a cada um deles que falasse de uma coisa que gostassem da sua vida.
Enquanto ouvia os seus colegas o
Ninguém ia ficando aflito, como falar de uma vida que quase não era, e, de
repente, mesmo quando chegou à sua vez, lembrou-se, começou a contar a uma
história, a última história que o Avô lhe tinha contado. Era uma história
grande, como sabem os avós nunca têm pressa, e o Ninguém contava a história tal
como o Avô a tinha contado. Ao contrário do habitual, na sala não se ouvia nada
a não ser o Ninguém a contar a história que acabou mesmo em cima do fim da
aula. Quando o Ninguém acabou, os seus colegas começaram a bater palmas e a
Professora Nova disse-lhe que nunca tinha ouvido uma história tão bonita e tão
bem contada.
O Ninguém, pela primeira vez
pensou que era Alguém. Nessa noite nem dormiu direito, só via os colegas e a
professora a ouvir com toda a atenção a história do Avô.
Se o Avô não tivesse partido no
ano anterior haveria de ficar mesmo contente.
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