Lê-se no Expresso que em 2023 se venderam em Portugal cerca de 12 milhões de embalagens de antidepressivos, o valor mais alto de sempre, sendo que entre 2013 e 2023 se verificou um aumento de 80%. Também a venda de antipsicótico subiu 75% entre 2013 e 2023, cerca de 5 milhões em 2023.
Este número pode ser explicado
por maior atenção aos problemas de saúde mental, as também, se verifica, de
acordo com alguns especialistas um excesso de prescrição ou de prescrição inadequada.
Em Maio de 2023 a imprensa
divulgou alguns dados de um inquérito realizado Lundbeck Portugal, farmacêutica
especializada em doenças neurológicas e psiquiátricas, 33,6% dos inquiridos
refere que já teve um diagnóstico de depressão, 62,1% já terá sentido sintomas
de depressão em algum momento e 77,3% têm um familiar ou amigo com diagnóstico
de depressão. São, na verdade, dados preocupantes, mas não surpreendentes.
A generalidade dos estudos sobre
saúde mental em Portugal sugere uma alta incidência de problemas nesta área e a
tendência de subida mantém-se.
Aos dados divulgados relativos venda
dos psicofármacos faltará o volume de situações de mal-estar não abordadas
através dos fármacos, as não tratadas e o contributo da automedicação apesar da
exigência de prescrição médica para este consumo. Este quadro levará a que o
número de consumidores seja superior às prescrições e número global de
situações de mal-estar seja bem superior aos indicadores de consumo.
Ainda não há muito tempo aqui
referi um estudo divulgado em 2021 realizado pelo investigador na área da
economia da saúde da Nova SBE, Pedro Pita Barros, “Acesso a cuidados de saúde -
As escolhas dos cidadãos 2020, em que se referia que 10% dos portugueses não
vão ao médico quando sentem algum mal-estar e que desta população, 63% recorre
à automedicação.
Um estudo coordenado pela Escola
Superior de Enfermagem de Coimbra durante o ano lectivo 21/22 envolvendo 5.440
jovens, com uma idade média de 14 anos e de mais de 150 escolas do Continente e
Madeira encontrou sintomas de depressão em 42% dos adolescentes. Este este
aumento está em linha com outros estudos, nacionais e internacionais.
Como defende Miguel Xavier,
coordenador nacional das políticas da Saúde Mental “Os problemas de Saúde
Mental previnem-se antes de aparecerem. Através de bons programas de
parentalidade, bons programas sociais, como os programas de apoio às populações
vulneráveis”, o que envolve a necessidade de políticas integradas, mas também a
importância dos recursos adequados.
Esperemos que o processo de
reforma dos serviços de saúde mental que está em curso possa ter um impacto
positivo. A saúde mental tem sido o parente pobre das políticas públicas de
saúde.
Existe muita gente a passar mal,
pode ser na casa ao lado.
No entanto, como agora se diz, somos resilientes e queremos viver, seremos capazes de continuar.
Sem comentários:
Enviar um comentário