quarta-feira, 19 de junho de 2024

DOS PROFESSORES

 Foram divulgados os resultados um inquérito realizado pela Fenprof junto de professores do 1º ciclo. Responderam 2150 docentes (8,5% dos professores de 1º ciclo nas escolas públicas e em síntese as suas respostas revelam o envelhecimento significativo da classe, 48,5% tem mais de 51 anos sendo que destes, um terço tem mais de 60 e apenas 5% menos de 40 anos.  Muitos, 40,6%, referem as dificuldades com recursos, designadamente, acesso à net, recursos e equipamentos informáticos e insuficiência de espaços para desporto.

Uma outra questão bastante referida prende-se com a dimensão e constituição das turmas, 49,4% afirma leccionar ter turmas com 21 ou mais alunos, destas, 24,1% têm um efectivo superior ao determinado pelo quadro legislativo, 23 alunos.

Também é referido que 46% das turmas que têm alunos com medidas selectivas ou adicionais, a linguagem do DL 54, têm mais de 20 alunos e um terço destas turmas têm mais de dois alunos com as medidas referidas ultrapassando limite legal.

Apesar da prudência que necessária parece clara a difícil situação profissional vivida por muitos milhares de professores com custos significativos em termos de bem-estar e trabalho desenvolvido.

Tenho abordado esta questão múltiplas vezes e recupero algumas notas.

Na verdade, os problemas que afectam os professores e as consequências a curto e médio prazo, sendo conhecidos de há muito, são agora claramente reconhecidos apesar de algumas tentativas de torcer a realidade. São recorrentes as referências à preocupante falta de professores, ao envelhecimento da classe, os níveis de cansaço e de exaustão emocional, a menor atracção dos mais jovens pela profissão associada a modelos de carreira, contratação e valorização pouco motivadores e justos. Os professores passam por dispositivos de avaliação pouco transparentes e competentes que desmotivam, causam mal-estar e climas institucionais pouco amigáveis, para ser simpático na adjectivação.

Este quadro, de um mal-estar reconhecido, não pode deixar de ter impacto. Como muitas vezes afirmo, crianças, enquanto grupo social, e professores, enquanto grupo profissional, constituem dois grupos nucleares nas sociedades contemporâneas. Os mais novos porque são o futuro e os professores porque, naturalmente, o preparam, tudo (quase) passa pela escola e pela educação. Entre nós, este entendimento ainda me parece mais justificado porque, devido a ajustamentos na organização social e familiar e, é minha convicção, devido a políticas públicas sociais e educativas inadequadas, os miúdos passam tempo excessivo na escola, alterando a dinâmica educativa familiar o que sobrevaloriza o papel da escola através dos professores.

Múltiplas acções, decisões políticas e discursos da tutela, bem como alguma imprensa e "opinion makers", têm contribuído para degradar a sua função, fragilizar a sua imagem social e comprometer o clima e a qualidade do trabalho desenvolvido nas escolas apesar dos professores continuarem a ser uma das classes profissionais em que os portugueses mais confiam.

Ser professor no ensino básico e secundário por razões conhecidas e por vezes esquecidas, é hoje uma tarefa de extrema dificuldade e exigência que social e politicamente justifica um reconhecimento e valorização frequentemente negligenciados. Acresce que é uma tarefa desempenhada por uma classe extremamente envelhecida e cansada como tem sido amplamente estudado e divulgado e também confirmado neste inquérito da Fenprof.

A valorização social e profissional dos professores em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. A valorização e reconhecimento passam também pela necessidade de modelos de avaliação justos e transparentes que sustentem, reconheçam e promovam competência, empenho e atracção pela profissão.

Como referia há dias a propósito do “Plano + Aulas, + Sucesso”, as mudanças nunca são fáceis, será sempre difícil um caminho de concordância generalizado, mas também tenho a convicção de que medidas conjunturais, mais positivas ou menos ajustadas, concebidas por ciclos políticos continuarão, apesar, de alguns ajustamentos, a “mexer” na conjuntura e a não alterar substantivamente a estrutura que alimenta … as conjunturas.

O caminho que temos vindo a seguir parece esgotado e o futuro está comprometido. Não vale a pena negar a realidade. 

1 comentário:

Figueiredo disse...

«…Há muita gente que não tem qualidades nem capacidades de ensino, não devia estar a ensinar, não por razões morais mas por razões técnicas, profissionais, porque não sabem para elas quanto mais para os outros…» – Joaquim Letria