Foi conhecido o “Plano + Aulas, + Sucesso” o anunciado programa destinado a minimizar a falta de docentes com as consequências que bem conhecemos, milhares de alunos sem todas as aulas, alguns praticamente todo o ano lectivo.
Embora acompanhe de perto o mundo
da educação, tem tido também o meu mundo nos últimos quase cinquenta anos, não
conheço profundamente as questões da profissão docente no ensino básico e
secundário.
Assim, contando também com a
leitura diversificada de comentários que têm sido divulgados, creio que algumas
das medidas são positivas, outras menos adequadas, umas com algum potencial de
operacionalização e impacto, outras nem tanto.
Esta reflexão assenta ainda numa
questão que me parece crítica, a necessidade de medidas que possam ter impacto
na conjuntura que vivemos e a necessidade de medidas que se reflictam na
estrutura que, obviamente, alimenta a conjuntura, designadamente e no caso, a
parte das medidas públicas de educação que envolvem a profissão docentes.
É certo que é mais fácil e mais
conforme com os ciclos políticas mexer na conjuntura, mas é mais potente e
eficaz analisar e ajustar medidas estruturais.
Nesta perspectiva, julgo absolutamente
necessário que as políticas públicas de educação assumissem como um eixo
nuclear a valorização da carreira docente, dos professores.
É claro que mudanças estruturais
têm custos pelo que será de considerar a necessidade de investimento sério em
educação, 6% do Produto Interno Bruto o que está definido pela UNESCO como meta
para 2030.
Só esta valorização pode tornar a
carreira docente atractiva e com um potencial de retenção e satisfação dos que
nela se integram
Esta valorização passa,
evidentemente, pela valorização salarial, mas importa considerar também
dimensões como a definição de modelos de carreira e de avaliação justos,
simplificados e transparentes e promotores de estabilidade. Não é concebível,
por exemplo, alimentar situações como, ”és um excelente professor, mas não
podes ser “excelente”, já não cabes”.
Importa que a valorização dos
professores resista ao risco de “deskilling” ou desprofissionalização através
de mudanças nas exigências da habilitação para a docência.
Importa que se definam
dispositivas de apoio ao exercício profissional em contextos mais exigentes.
Importa que se desburocratize o
exercício da docência com gastos brutais de tempo e esforça sem retorno
pertinente. Sim eu sei, como dizia João dos Santos, que “mais difícil em
educação é trabalhar de uma forma simples”, mas desburocratizar não é promover “facilitismo”
é uma medida com impacto positivo em termo profissionais e pessoais.
Considerando o que acontece em muitos
territórios educativos talvez seja de começar a olhar (reflectir) sobre o modelo
de governança das escolas e agrupamentos que parece excessivamente dependente
da competência de cada direcção criando assimetrias profissionais e climas
institucionais menos favoráveis ao trabalho de alunos, professores e técnicos.
Julgo claro que mudanças neste
sentido não são fáceis e que será sempre difícil um caminho de concordância
generalizado, mas também tenho a convicção de que medidas conjunturais, mais
positivas ou menos ajustadas, concebidas por ciclos políticos continuarão,
apesar, de alguns ajustamentos, a “mexer” na conjuntura e a não alterar substantivamente
a estrutura que alimenta … as conjunturas.
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