Foi divulgado o mais recente relatório do Eurostat que incide sobre a questão dos jovens "nem-nem" (nem estudam, nem trabalham) ou, na formulação em inglês, NEET (“not in education, employment or training"). Este grupo abrange jovens dos 15 aos 29 anos e representa 11,2% dos jovens europeus e 8,9% em Portugal.
Apesar de algum abaixamento o número
de jovens nesta situação é ainda significativo e, sobretudo, comprometedor de
um projecto de vida bem-sucedido.
Acresce que um estudo divulgado
em Abril realizado por uma equipa do SINCLab. Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação da Universidade do Porto, referia que 65,6% dos jovens até
aos 30 anos que trabalham recebem menos de 1000€ de salário sendo que as
mulheres recebem menos 26%. Acresce que 24% do total não têm trabalho a tempo
inteiro.
Considerando ainda uma dimensão
crítica na vida dos jovens, a habitação, 87,7% dos inquiridos vive com a
família. Recordo os dados do Eurostat de 2022, segundo os quais a idade média
da saída de casa dos pais em Portugal está em 29,7. Em 2021 tinha a idade média
mais alta da EU, 33,6 anos. A média europeia de 2022 é 26,4. Para comparação as
idades médias mais baixas registam-se na Suécia, 21,4, e na Finlândia, 21,3.
Parece claro que os jovens
portugueses continuam a experimentar dificuldades em construir projectos de
vida autónomos e positivos. Num tempo em que tudo parece ser para hoje, boa
parte dos jovens sentirá procurar um projecto de vida percebido para um amanhã
longínquo.
Estão identificadas dimensões
contributivas para esta situação como a dificuldade em aceder a trabalho digno,
a precariedade laboral, os custos elevados da educação e qualificação e os
também elevados custos no acesso, renda ou compra, de habitação que como se
sabe se acentuou dramaticamente nos últimos tempos.
Este cenário ajuda a perceber
algumas das mais fortes razões pelas quais os jovens em Portugal abandonam a
casa dos pais cada vez mais tarde e adiam projectos de vida que incluam
paternidade e maternidade. Para além das questões de natureza cultural e de
valores que importa considerar, bem como as políticas de família nos países do
norte da Europa, as actuais circunstâncias de vida dos jovens e as implicações
da conjuntura económica sustentam este cenário que provavelmente demorará a ser
revertido.
A estes indicadores, já a merecer
preocupação, devem juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do recurso a
estágios e outras modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata e a
prática de vencimentos que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo para
jovens altamente qualificados.
Esta situação complexa e de
difícil ultrapassagem tem obviamente sérias repercussões nos projectos de vida
das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras,
contar-se-ão o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no acesso a condições
de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de projectos de
paternidade e maternidade que por sua vez se reflectem na crise demográfica que
atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à sustentabilidade
dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam enormes
dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito
provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira
profissional.
No entanto, um efeito potencial,
mas menos tangível desta precariedade no emprego e na construção de um projecto
de vida autónomo e sustentado, é a promoção de uma dimensão psicológica de
precariedade face à própria vida no sentido global e que, com alguma
frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de outra
maneira, pode instalar-se, está a instalar-se nos jovens, uma desesperança que
desmotiva e faz desistir da luta por um projecto de vida de que se não
vislumbra saída mobilizadora e que recompense.
O aconchego da casa dos pais pode
ser a escapatória para a sobrevivência, mas potenciar o risco da desistência o
que certamente poderá ter implicações sérias.
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