domingo, 6 de agosto de 2023

MAIS UM PASSO, ESPEREMOS QUE SE CUMPRA E COM BREVIDADE

 Vão sendo conhecidas as iniciativas previstas no novo Plano de Acção de prevenção e combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica, uma das componentes da Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação, aprovado em Junho,

No Público lê-se que as crianças a viver em casas-abrigo no âmbito de casos de violência doméstica serão integradas em creches e jardins de infância. No primeiro trimestre deste ano estavam acolhidas nas redes de apoio quase 700 crianças.

A integração destas crianças em creches e jardins de infância iniciar-se-á ainda este ano e prolonga-se pelos próximos anos. Trata-se, evidentemente de um passo positivo registando-se a excessiva morosidade na colocação de todas as crianças, mas as prioridades nas políticas públicas têm, demasiado frequentemente, razões que a razão desconhece.

Estas crianças passaram por experiências devastadoras com impactos fortíssimos. Apesar da sua resiliência os apoios não podem, não devem, falhar ou atrasar-se.

Recordo um trabalho divulgado em 2022 e já aqui citado, realizado por uma equipa do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade Lusófona, que envolveu 1205 crianças filhas de 1010 mulheres que nos anos de 2014, 2015 e 1016 apresentaram queixa por violência doméstica.

Em termos sintéticos, a taxa de retenção no seu trajecto escolar é cinco vezes a superior à restante população escolar, revelam mais perturbação da sua saúde mental e mobilizam mais comportamentos ilícitos em contexto escolar, maiores níveis de consumo de álcool ou drogas. Trata-se de facto, de um quadro preocupante e indicador do caminho que importa percorrer para o qual a medida agora anunciada é de uma importância crítica como também o será a constituição anunciada em 2021 de 31 equipas para apoio a crianças e jovens vítimas de violência doméstica. Estas equipas integram as Respostas de Apoio Psicológico para crianças e jovens atendidos ou acolhidos na Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica.

Também recordo que em Julho de 2021 foi finalmente aprovado o estatuto de vítima para as crianças e jovens em contexto de violência doméstica algo reclamado de há muito pelo Instituto de Apoio à Criança e pela a Ordem dos Advogados.

Para além de sublinhar os danos potenciais que esta exposição pode provocar nas crianças ou adolescentes, importa não esquecer, daí a importância na integração em creches e jardins de infância, um outro potencial efeito nas crianças que assistem a episódios, por vezes violentos, de violência doméstica, os modelos de relação pessoal que são interiorizados. A frequência de creches ou jardins de infância podem ser um contexto de enorme riqueza educativa e desenvolvimento saudável.

Esperemos que as medidas agora anunciadas, sejam mais do que uma promessa, e aumentem significativamente os níveis de protecção e apoio a crianças em situação vulnerável.

Recupero uma citação que sempre me acompanha, Benedict Wells em “O fim da solidão” afirma, “Uma infância difícil é como um inimigo invisível. Nunca se sabe quando nos vai atingir”.

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