O Presidente da República promulgou o diploma relativo à carreira docente depois de um ajustamento realizado pelo Governo que, em bom rigor, significa coisa nenhuma.
Estamos a poucas semanas do
início do ano lectivo e a perspectiva parece continuar a ser a reentrada numa
realidade desafiante, para recorrer a uma frase batida.
Os representantes dos professores
parecem enredados numa teia de protagonismos, agendas ou numa espécie de
mesmismo inconsequente.
Os professores desesperam de
cansaço, desânimo e injustiça e não se auguram alterações no clima em que as
escolas viveram o ano lectivo passado.
Alunos e pais não sabem muito bem
o que vai acontecer e a inquietação é nítida.
O Governo escuda-se numa argumentação
centrada em potenciais custos cujas contas, como tem sido referido, nunca dão
certas, o que, não acreditando em iliteracia matemática, me parece mais ser um
problema de iliteracia política.
Argumenta ainda com a necessidade
de não criar discrepâncias de justiça com outras carreiras. Não colhe, nada
mais injusto que tratar questões diferentes de forma igual.
Aliás, a argumentação nem sequer
é coerente porque continua a verificar-se a existência de uma carreira na
administração central e autárquica que atravessa incólume problemas de estatuto
salarial, entrada na carreira ou mobilidade. Refiro-me à carreira de “assessoria”
realizada em centenas ou milhares de gabinetes espalhados por tudo quanto é
estrutura da administração nos seus diferentes níveis. Não se colocam grandes problemas
de formação, quase sempre é suficiente um percurso jotista ou um próximo bem
colocado e quase sempre conseguem estar na crista da onda, e no sítio certo, qualquer
que seja a onda e sítio.
Sim, tem uma pontinha de
demagogia e populismo, estão em moda, mas tem um pontão de realidade, apesar
das excepções que se registam.
Provavelmente, em Setembro
teremos um anúncio de alterações no IRS para o próximo orçamento de estado, o
que se tentará que se sobreponha a algo que já não se estranha, o clima insustentável
que se instalou nas comunidades escolares.
Gostava que este texto, para usar
uma frase conhecida do discurso político, não “tivesse adesão à realidade”, mas
não sou dado a exercícios de “wishful thinking”.
Antes fosse, andava mais
bem-disposto.
PS - Os dados hoje divulgados pelo ME relativamente aos dois concursos para professores já realizados, se considerarmos a situação ano lectivo passado, não me parecem animadores. A ver vamos no início do ano lectivo. Mais uma vez, gostava de estar enganado.
Sem comentários:
Enviar um comentário