quarta-feira, 23 de agosto de 2023

SETEMBRO ESTÁ À PORTA

 O Presidente da República promulgou o diploma relativo à carreira docente depois de um ajustamento realizado pelo Governo que, em bom rigor, significa coisa nenhuma.

Estamos a poucas semanas do início do ano lectivo e a perspectiva parece continuar a ser a reentrada numa realidade desafiante, para recorrer a uma frase batida.

Os representantes dos professores parecem enredados numa teia de protagonismos, agendas ou numa espécie de mesmismo inconsequente.

Os professores desesperam de cansaço, desânimo e injustiça e não se auguram alterações no clima em que as escolas viveram o ano lectivo passado.

Alunos e pais não sabem muito bem o que vai acontecer e a inquietação é nítida.

O Governo escuda-se numa argumentação centrada em potenciais custos cujas contas, como tem sido referido, nunca dão certas, o que, não acreditando em iliteracia matemática, me parece mais ser um problema de iliteracia política.

Argumenta ainda com a necessidade de não criar discrepâncias de justiça com outras carreiras. Não colhe, nada mais injusto que tratar questões diferentes de forma igual.

Aliás, a argumentação nem sequer é coerente porque continua a verificar-se a existência de uma carreira na administração central e autárquica que atravessa incólume problemas de estatuto salarial, entrada na carreira ou mobilidade. Refiro-me à carreira de “assessoria” realizada em centenas ou milhares de gabinetes espalhados por tudo quanto é estrutura da administração nos seus diferentes níveis. Não se colocam grandes problemas de formação, quase sempre é suficiente um percurso jotista ou um próximo bem colocado e quase sempre conseguem estar na crista da onda, e no sítio certo, qualquer que seja a onda e sítio.

Sim, tem uma pontinha de demagogia e populismo, estão em moda, mas tem um pontão de realidade, apesar das excepções que se registam.

Provavelmente, em Setembro teremos um anúncio de alterações no IRS para o próximo orçamento de estado, o que se tentará que se sobreponha a algo que já não se estranha, o clima insustentável que se instalou nas comunidades escolares.

Gostava que este texto, para usar uma frase conhecida do discurso político, não “tivesse adesão à realidade”, mas não sou dado a exercícios de “wishful thinking”.

Antes fosse, andava mais bem-disposto.

PS - Os dados hoje divulgados pelo ME relativamente aos dois concursos para professores já realizados, se considerarmos a situação ano lectivo passado, não me parecem animadores. A ver vamos no início do ano lectivo. Mais uma vez, gostava de estar enganado.

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