E prossegue a onda de projectos e
inovação que libertarão a educação, em particular a educação escolar, da
tirania dos modelos, métodos, didácticas, recursos, etc. obsoletos, ineficazes,
e, o pior de tudo, com designações que se esgotaram, quase sempre em português,
algo que já não se usa, “não “vende” e não prometem o sucesso. Também sabemos que qualquer "modelo" ou iniactiva será sempre uma ferramenta e o sucesso depende de
conjunto alargado de variáveis, incluindo as variáveis pessoais e contextuais.
Desta vez, trata-se do projecto, iniciativa, não sei bem o que usar, TUMO. No
Público encontra-se uma peça de divulgação que “vende” muito bem o “projecto”. Na
verdade e como sempre, tudo começa aqui, no “marketing”, sinais dos tempos.
Realizei uma rápida pesquisa em
sites de natureza científica e, talvez por pressa, não encontrei nada de particularmente
relevante sobre a natureza, impacto e validação, mas voltarei à tarefa com mais
persistência e profundidade.
Do que li percebi que envolve
estudantes em actividades no exterior da escola mais “fora da caixa” que o
habitual, mas, claro, tem como objecto entrar nas escolas e desenvolver essas
actividades. Dos custos desta iniciativa para as famílias ou, quando assim for,
para as escolas, não me pronuncio, mas existe, e, como sempre, pagará quem
pode, ou que quem gere, contando eventualmente com alguns apoios do mundo
empresarial. Por aqui também nada de novo
Num exercício de crença e boa
vontade afirmo, como o José Afonso, “seja bem-vindo quem vier por bem” e registo
todas as iniciativas que possam contribuir para minimizar ou erradicar
problemas, mas já me falta convicção no impacto do procedimento habitual, para cada constrangimento ou dificuldade
percebida nas escolas, pelas escolas ou de fora das escolas, aparece vindo de fora ou
gerido de fora, um Plano, um Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as combinações
são múltiplas, destinado a minimizar eliminar as dificuldades identificadas. Surge agora mais uma iniciativa.
Durante as últimas décadas, perco
a conta a planos, projectos, programas, experiências inovadoras que chegaram às
escolas para combater o insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso,
promover a leitura e escrita, promover a matemática, promover a educação
científica, promover a educação inclusiva, erradicar ou minimizar o bullying, a
relação entre escola e pais e encarregados de educação, promover a expressão
artística e a criatividade, promover comportamentos saudáveis e actividades
desportivas, literacia financeira, promover a inovação e as novas tecnologias, ou,
como agora no TUMO promover de forma inovadora, cá está, as competências STEM (Ciência,
Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). Naturalmente existem ainda iniciativas
de natureza mais "alternativas", por assim dizer, e que têm poderes
mágicos, parece. A lista enunciada é apenas exemplificativa.
Com demasiada frequência muitos
destes projectos ou iniciativas vêm de fora das escolas, as origens são
variadas, não chegam a envolver a gente das escolas, esmagada pelo trabalho,
burocracia e outros constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor
forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado.
Também com demasiada frequência
muitos destes projectos morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são
avaliados de forma robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o
portfólio dos organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja
positiva aos intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.
Todavia, preciso de afirmar que
muitos destes Planos, Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos
notáveis que, também com frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que
todos os envolvidos mereceriam.
Também demasiadas vezes estas
iniciativas consomem recursos com baixo retorno e ao serviço de múltiplas
agendas.
Ponto.
Tenho para mim, que não podendo a
escola responder a todas as questões que afectam quem nelas passa o dia
poderia, ainda assim, fazer mais e melhor se os investimentos feitos no mundo à volta da
escola e que lhe vêm bater à porta com propostas fossem canalizados para as
escolas e geridos pelas escolas.
Com real autonomia, com mais
recursos e com modelos organizativos mais adequados as escolas poderiam certamente fazera mais e melhor que quem vem de fora numa passagem transitória, mais
ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de
escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares,
auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes
domínios.
Directores de turma com mais
tempo para os alunos e professores com menos alunos poderiam desenvolver
trabalho útil em múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em
número mais adequado poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas
acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem
iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a
experiência mostra-o, um investimento com retorno.
Professores valorizados e
qualificados social e profissionalmente o adequar de dimensões como o
recrutamento, o ajustamento na formação, o modelo de carreira, o modelo de
avaliação e progressão, a valorização do estatuto salarial dos docentes, ou a
desburocratização do trabalho dos professores, entre outros aspectos.
Repetindo e sintetizando, os
professores sabem como avaliar e identificar as dificuldades dos alunos. O que
verdadeiramente é imprescindível é dotar as escolas de forma continua e estável
dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as
dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios
tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios
específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num
rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são
essenciais e serão sempre essenciais. Torna-se também necessária a existência
de dispositivos de regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de
processos desburocratizados.
São apenas alguns exemplos de
respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior
aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras
destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me
têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos. Por
outro lado, também acontece que todo este movimento acaba por mascarar a
inadequação ou ausência em matéria de políticas públicas.
Daí este meu cansaço.