Por diferentes razões o clima das escolas nos últimos anos tem sido pouco amigável, para ser simpático, para alunos, professores, técnicos e pais. A pandemia e os seus efeitos, que ainda perduram, e o processo de reivindicação dos docentes, de que não se vislumbra o regresso à normalidade, seja isso o que for, são algumas das variáveis, mas não as únicas que conribuem para esse cenário.
Tem sido recorrente a divulgação
em diferentes suportes de situações de conflito em diferentes escolas e
agrupamentos no âmbito da actuação das respectivas direcções. Sim, também
conhecemos situações em que as coisas correm bem dentro do que se pode esperar num
universo tão complexos como a educação. Algumas notas sobre a direcção de escolas e
agrupamentos.
O modelo de direcção
unipessoal das escolas e agrupamentos e forma como é desempenhado volta com
regularidade à agenda incluindo o questionar do próprio modelo face a uma
direcção colegial. Têm existido estudos de opinião e tomadas de posição
individuais ou manifestos que alimentam a discussão ou mesmo a necessidade de
alterar o modelo de direcção.
Como já tenho afirmado a
propósito de outras matérias, talvez fruto do ambiente de fortíssima tensão que
nos últimos anos envolve a educação, os debates e as ideias também tendem a ser
crispados, com opiniões definitivas e sem margem de entendimento e,
frequentemente, com agendas menos explícitas. O modelo de gestão das escolas
será apenas mais um exemplo deste cenário.
Com o atrevimento de quem não
vive por dentro o quotidiano das escolas, mas que nas últimas décadas tem
acompanhado de forma atenta o universo da educação, retomo algumas considerações.
Conforme tenho dito, sempre me pareceu
claro que a transformação da direcção de escolas e agrupamentos num modelo
unipessoal e a sua forma de eleição através dos conselhos gerais, acompanhada
por uma política de mega-agrupamentos diminuindo substancialmente o número de
unidades orgânicas, gosto desta designação, se inscreveu na sempre presente
tentação de controlo político do sistema. A experiência tem vindo a evidenciar
essa situação.
São conhecidos casos, alguns
chegam à imprensa, de processos de eleição de direcções escolares que mais não
são do que formas de colocar pessoas com o alinhamento certo na função. Aliás,
o próprio funcionamento dos Conselhos Gerais é, em algumas situações, um
exemplo disto mesmo. Assim sendo, o modelo de gestão unipessoal e a forma de
eleição dos directores não são garantias de “mais democracia” ou “melhor democracia”
nas escolas.
Dado um pecado estrutural do
nosso sistema educativo, a ausência de dispositivos de regulação ao longo de
décadas, coexistem boas experiências e práticas em situações de direcção
unipessoal com situações bem negativas.
Por outro lado, importa recordar
que em muitas circunstâncias também a “gestão democrática", de democrática
não tinha assim tanto e também se verificavam casos gritantes de menor
competência.
Dito isto, parece-me que tanto
quanto ou mais do que o modelo de direcção, unipessoal ou colegial, julgo de
reflectir na forma de eleição, participam todos os docentes ou um pequeno grupo
que “representa” o corpo docente no conselho geral, o mesmo se passando com os
funcionários.
Por outro lado, também me parece
que deve existir um claro reforço do papel dos Conselhos Pedagógicos no
funcionamento de escolas e agrupamentos. Parece-me também clara a vantagem da
presidência do Pedagógico ser claramente independente da direcção da escola,
sobretudo num modelo de direcção unipessoal.
Importa também que a reflexão
sobre a direcção de escolas e agrupamentos seja acompanhada de uma verdadeira
reflexão sobre o quadro de autonomia nas suas várias dimensões e equilíbrios.
Qual o efeito da municipalização ou “proximidade”, como também lhe
chamam, na autonomia e funcionamento de escolas e agrupamentos.
É claro que quanto mais sólido
for o modelo de autonomia das escolas mais importante se torna o papel e função
da direcção, independentemente do modelo. Esta é do meu ponto de vista a
questão central.
Muitos estudos e a experiência
mostram que nas organizações, incluindo escolas, a qualidade das lideranças tem
um impacto forte no desempenho, em diferentes dimensões, das instituições e também de todos os que nela
funcionam. Boas lideranças escolares traduzem-se em melhores e mais estáveis
climas de trabalho, maior nível de colaboração entre os profissionais, menor
absentismo, melhores resultados ou menos incidentes de natureza disciplinar,
ambientes escolares mais amigáveis em termos de educação inclusiva, melhor
relação com pais e comunidade, entre outros aspectos. Como exemplo, em 2019 um
estudo realizado pela Universidade do Porto da Universidade do Porto sugeria
que o estilo de liderança dos directores das escolas tem um impacto importante
na motivação dos professores pois existe uma “correlação significativa entre a
forma como são geridos os estabelecimentos de ensino e a relação que os
docentes têm com a sua profissão. Creio
que o cenário não se terá alterado.
Camões já afirmava que um fraco
Rei faz fraca a forte gente” o que numa actualização republicana poderá
entender-se como a defesa de lideranças competentes, com uma gestão
participada, com mecanismos de eleição alargados, transparentes, escrutinados e
com, insisto, mecanismos de regulação que previnam excessos e abusos.
Alguns episódios na contratação
de docentes ou de funcionários e nos processos que envolvem técnicos e docentes,
são exemplos em ter em conta pela forma negativa como foram geridos ou
desencadeados por algumas direcções de escolas de escolas e agrupamentos.
Vamos ver como e quando conseguiremos a estabilidade imprescindível ao trabalho de todos os envolvidos nas comunidades escolares
2 comentários:
Peço desculpa, não é "algumas direções" ou "alguns Conselhos Gerais", são a sua grande maioria.
Olá Rui, sou muito prudente.
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