No Público encontra-se uma entrevista interessante com Tânia Gaspar a propósito da indicação divulgada pela UNESCO de limitação da utilização dos telemóveis nas escolas considerando os seus múltiplos efeitos negativos, embora, naturalmente, não possamos esquecer as suas potencialidades
De facto, em sistemas educativos
de diferentes países tem vindo a desenvolver-se um movimento no sentido de
reduzir ou proibir a utilização destes dispositivos em contextos escolares ou,
pelo menos, nos recreios.
Em Portugal também existem decisões
de comunidades escolares, públicas e privadas no mesmo sentido encontrando-se,
creio, ainda a decorrer uma petição com esse objectivo.
Já por aqui tenho abordado esta questão e fico satisfeito com esta emergente preocupação com a sobreutilização dos telemóveis nos espaços escolares (e não só) pelos mais novos com riscos e consequências conhecidas.
No entanto, ainda que se possam compreender as razões que sustentam as proibições, o uso excessivo e desregulado, as decisões de proibição não parecem ser consensuais.
Tal como Tânia Gaspar não tenho
nenhuma convicção que esta estratégia de proibição devolva crianças e
adolescentes à interacção pessoal e a outros hábitos comportamentais mais
interessantes embora, obviamente, seja imprescindível a regulação do seu uso.
Aliás, também não é rara a
utilização de telemóveis associada a actividades de aprendizagem.
A questão estará a montante, a
utilização que nós todos damos a estes dispositivos. Seria bastante mais
interessante que se discutisse a sério nas comunidades educativas a regulação
dos comportamentos e definição de regras e limites, sem “superpais”, sem
“superfilhos” ou “superprofessores”. No entanto, esta discussão tem de ser
acompanhada pela nossa, adultos e profissionais, regulação da sua utilização.
Se olharmos para muitas famílias em “convívio” ou para muitos contextos
profissionais em “reunião” verificaremos os ecrãs que muitos terão à sua frente
e perceberemos o que está por fazer, comportamento gera comportamento.
Também me parece que este movimento
deve ser enquadrado na mudança que felizmente também parece estar a emergir refreando o
deslumbramento pela “transição digital” que, enquadrando de forma ajustada a
inevitabilidade de incorporar estas ferramentas nos processos educativos, também
volta a defender a importância de abordagens metodológicas ou didácticas “antigas”,
“conservadoras”, tais como escrever à mão, desenhar, brincar na rua, ler em
suporte papel, interagir presencialmente ou promover relações afectivas literalmente
mais próximas, tudo ferramentas importantes de desenvolvimento e aprendizagem.
A ver vamos com a coisa evoluirá
por cá quando estamos submersos por um tsunami de transição digital e, claro,
de inovação e capacitação.
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