quarta-feira, 12 de julho de 2023

TRANSITAR E APRENDER

 O Júri Nacional de Exames divulgou o resultado das provas finais de Português e Matemática do 9º ano. Os resultados em Português foram positivos, 61% em média e 78,2% dos alunos acima dos 50%. Em Matemática acentuou-se o baixo resultado que se tem verificado, 42% de alunos acima dos 50%,  58% de notas negativas e uma média de 43%, um dos mais baixos já verificados.

Importa considerar que estes alunos vivenciaram o período mais “pesado” da pandemia, não realizaram provas de aferição no 5º e no 8º não existindo avaliação externa no seu percurso. A prova de Matemática foi considerada equilibrada pela APM e SPM, o que nem sempre se verifica

No entanto, já se conhece a taxa de retenção no 9º ano em 2022, 3,6%, e creio que ainda não foram divulgados os dados relativos aos “Percurso de sucesso”.

Os resultados a Matemática são preocupantes, merecem a maior das atenções e recordo o que escrevi há dias sobre o Plano de Recuperação das Aprendizagens.

Por outro lado, mesmo sem conhecer o indicador relativo aos percursos de sucesso, coloca-se a questão que já aqui tenho abordado, poderemos interpretar a transição de ano como sucesso na aprendizagem de competências e conhecimentos ou teremos de considerar que ter sucesso é a “a passagem de ano” na velha lógica de “transita, mas não progride”?

De facto, o que conhecemos das provas nacionais não parece compatível com os indicadores de transição. Já aqui tenho abordado a questão a propósito de resultados de outros anos escolares.

Acresce o facto deste grupo de alunos ter passado pela experiência severa dos confinamentos com um confirmado impacto nas aprendizagens.

Importa sublinhar com muita clareza que levantar esta questão não significa a defesa da retenção como ferramenta de sucesso e qualidade. Não é, sabemos que o “chumbo”, só por si, não gera sucesso e qualidade. Nenhuma dúvida sobre isto.

E volto a insistir. A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens e com regulação externa, sim, naturalmente, mas também com a avaliação justa e competente do trabalho dos professores e das escolas, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.

É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas taxas de retenção escolar e que significam conhecimentos e competências adquiridas.

É o que ainda não conseguimos fazer acontecer de forma consistente, generalizada e sustentada em Portugal, apesar da imensidade de projectos, iniciativas, inovação, actividades que, demasiadas vezes chegam do exterior às escolas, podem ser interessantes … mas não são mágicos, por mais que num exercício de "wishful thinking" os queiramos entender e vender como tal.

Não será este o caminho.

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