Ontem ao fim da tarde passou por aqui no Monte o meu amigo Manel. Veio dar uma vista de olhos a uma máquina da sua especialidade e, claro, para umas lérias.
O calor bravo e a secura que
ameaça o Alentejo, apesar das paisagens verdes das culturas superintensivas que
a prazo nos trarão o deserto, foram tema para conversa.
O amigo Manel de há muito que nos
arranja o mel que não dispensamos e veio à baila a preocupação.
Este ano não houve Primavera, não
tivemos flores e as abelhas não têm o alimento de que precisam para fabricar o mel. A situação é
inquietante, lembro-me de há pouco tempo procurar umas flores para compor
os ramos do Dia da Espiga que sempre fazemos e não as encontrar, tudo já está seco.
O tempo vai malino. O Manel diz
que, provavelmente, nem vai crestar as colmeias, ficaria sem abelhas. Assim
ficamos sem mel.
Imagino que a Terra comece a
ficar cansada da irresponsabilidade delinquente desta gente que a povoa,
sobretudo dos que lideram. Depois de tanta asneira insistem nos maus-tratos e
não se entendem sobre a forma de mudar de rumo.
Dão-lhe cabo das entranhas,
alteram-lhe o clima, mudam paisagens, esgotam-na, deixam-na estéril e sem
sustento ou, pelo contrário, a água é muita, devasta o que apanha pela frente.
A Terra não está a aguentar e
zanga-se. E nós também não aguentaremos.
A minha avó Leonor, mulher de
sabedoria, ainda eu era miúdo costumava dizer que não era bom a gente meter-se
com a Terra, com a natureza, e maltratá-la. A natureza vai ser sempre maior que
a gente e não aceita que mandem nela.
Quando acorda zanga-se e quando
se zanga os efeitos são devastadores e apesar dos avisos não parece que a levem
a sério.
Esta gente não aprende mesmo, já
não espero que o fizessem em nome deles, os seus interesses imediatos não
deixam. Mas podiam fazê-lo em nome dos filhos, dos filhos dos filhos, dos filhos
dos filhos dos filhos, …
E são assim, por enquanto, os
dias quentes do Alentejo.
Sem comentários:
Enviar um comentário