O que se conhece das alterações em discussão no quadro de habilitações exigidas para ser professor continua a suscitar dúvidas.
Por outro lado, face ao
cenário crítico de falta de docentes e numa perspectiva mais global, urge
repensar a carreira docente, considerando dimensões como o recrutamento, o
ajustamento na formação, o modelo de carreira, o modelo de avaliação e
progressão, a valorização do estatuto salarial dos docentes, a promoção da sua
valorização profissional e social ou a desburocratização do trabalho dos
professores, entre outros aspectos. Só mudanças integradas e não exclusivamente na formação podem sustentar a
atractividade, a estabilidade e, naturalmente, a qualidade da profissão
docente.
Focar a minimização do sério
problema da falta de professores no abaixamento do nível de formação exigida parece um
mau caminho.
Também não sossega a perspectiva
de que quem concorrer com o que vier a ser considerado “habilitação própria”
não acede à carreira pois não resolve a falta de docentes coma habilitação
profissional pouco efeito terá na motivação para ser professor pela ausência de
estabilidade e na motivação para a escolha da profissão docentes.
Acresce o risco da “desprofissionalização”
ou, de recorrendo a uma ideia que já tenho referido a de “deskilling”
promovendo uma concepção “empobrecida”, diria “embaratecida” do professor e das
exigências de formação para a função.
Neste quadro pode vir a
desenhar-se uma visão de que os docentes cumprem ordens e programas, não têm
que fazer grandes escolhas, possuir conhecimento aprofundado em diferentes
áreas científicas, solidez nas metodologias, valores éticos e morais, etc.
Seria suficiente uns burocratas, agora mais burocratas digitais a papaguear,
fabricar, aulas para grupos de alunos "normalizados".
Como já escrevi, os professores
poderão ser então basicamente considerados como “entregadores de conteúdos”,
(content delivers na formulação original), burocratiza-se ainda mais a “medição
de saberes” apoiados em fórmulas de gestão “plataformizadas” em modelos
“digito-burocratas" construídas num qualquer serviço centralizado ou num
cenário de “descentralização” que, de facto, não promove uma autonomia robusta
das escolas cujo modelo de governação é parte desta equação.
Este trajecto, a confirmar-se pode
vir a tornar os professores mais “baratos” e a base de recrutamento pode ser
alargada, mas o nosso futuro será mais caro por pior qualidade, um professor de
… é muito mais que um técnico de …
A ver vamos, como se diz por
aqui.
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