quinta-feira, 18 de maio de 2023

TUDO NA ESCOLA, A ESCOLA AGUENTA?

 É divulgada no Público uma iniciativa, a “KIT Direitos Humanos”, que a partir de um jogo desenvolvido no ISCTE que coordena a iniciativa em parceria com a Associação Inovar Autismo. O objectivo é desenvolver em crianças e jovens uma maior conhecimento e consciencialização dos direitos humanos e inclusão das pessoas com deficiência.

A iniciativa envolverá escolas de ensino básico e secundário, associações ligadas às escolas e grupos informais de educação.

Também no Público se divulgam alguns dados sobre o "Por ti - Programa de Promoção de Bem-estar Mental nas Escolas" que está em desenvolvimento desde 2022 e terminará em 2026.

Ao final de Abril o programa já envolveu quase 20000 alunos do 3º ciclo, mais de 1900 professores e assistentes operacionais e mais de 500 famílias de mais de 100 escolas públicas de 59 concelhos.

O objectivo deste programa é capacitar as pessoas e fomentar o bem-estar através do "desenvolvimento de competências de regulação emocional que contribuam para estilos de vida mentalmente mais equilibrados".

O Programa é financiado pela Z Zurich Foundation, é gerido pela Zurich Portugal e Missão Azul, e implementado pela EPIS numa pareceria com a UPC³ da Universidade de Coimbra.

Qualquer das áreas contempladas nestas duas iniciativas é de grande importância no desenvolvimento global das pessoas e comunidades. Começar pelos mais novos é uma estratégia adequada e de maior alcance.

No entanto, parece-me oportuno sublinhar a importância de que os recursos e iniciativas a desenvolver integrem as escolas no âmbito da sua autonomia e ds seus projectos educativos e não “apareçam” traduzidos numa imensidade de projectos e iniciativas vindas “de fora” como, lamentavelmente, é frequente.

Como cantava o Zeca Afonso, “seja bem-vindo, quem vier por bem”, e como é evidente, registo todas as iniciativas, projectos, experiências de inovação, etc., que possam contribuir para minimizar ou erradicar problemas, mas já me falta convicção no impacto do modelo mais habitualmente seguido.

Com demasiada frequência muitos destes projectos vêm de fora das escolas, as origens são variadas, por vezes nem chegam a envolver a gente das escolas, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado.

Também com demasiada frequência muitos destes projectos morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são avaliados de forma robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o portfólio dos organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja positiva aos intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.

 A escola pode estar centrada no TODO do aluno, mas não no "ensino" do TUDO que o aluno deve saber ou conhecer.

A questão é que os alunos estão muito tempo na escola e a tentação é óbvia e grande, a escola que faça.

Todavia, preciso de afirmar que muitos destes Planos, Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos notáveis que, também com frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que todos os envolvidos mereceriam.

Também demasiadas vezes estas iniciativas consomem recursos com baixo retorno e ao serviço de múltiplas agendas.

Tenho para mim, que não podendo a escola responder a todas as questões que afectam quem nelas passa o dia poderia, ainda assim, fazer mais se os investimentos feitos no mundo à volta da escola e que lhe vem bater à porta com propostas fossem canalizados para as escolas.

Com real autonomia, com mais recursos e com modelos organizativos mais adequados e processos menos burocratizados, as escolas poderiam fazer certamente mais e melhor que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.

Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes domínios.

Directores de turma com mais tempo para os alunos e menos burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.

Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado, o que se verifica poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.

Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento com retorno.

São apenas alguns exemplos de respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos.

Está em jogo o desenvolvimento escolar e pessoal de crianças, adolescentes e jovens, ou seja, do futuro.

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