O calendário das consciências
determina que o dia 25 de Maio seja o Dia Internacional das CriançaDesaparecidas. A Linha SOS Criança Desaparecida do Instituto de Apoio à Criança
já registou 50 apelos este ano que se pode comparar com o total de casos em 2022,
58. A maioria das situações, envolve fuga de instituições.
No entanto, e em termos mais
globais a tragédia que envolve o desaparecimento de crianças no âmbito da crise
dos refugiados assume proporções alarmantes e que são uma acusação fortíssima à
mediocridade das lideranças mundiais.
A maioria das situações de
desaparecimento de crianças em Portugal tem um final positivo, o
desaparecimento é temporário e uma reacção a incidentes pessoais ou a
resultados escolares.
De há uns anos para cá tem sido
feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na
abordagem a situações desta natureza bem como dedicar maior atenção aos
factores de risco de que a título de exemplo se citam as redes sociais, que não
podendo, obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem
ser negligenciados.
Merece ainda registo o aumento
significativo de crianças desaparecidas através do rapto parental em contexto
de separações familiares com algo grau de litígio e que, evidentemente,
implicam enorme sofrimento para todos os envolvidos, em particular para os mais
vulneráveis, as crianças.
Situações trágicas como as do Rui
Pedro ou da Maddie McCann, que por estes dias voltou à agenda, crianças
desaparecidas que nunca foram encontradas, são absolutamente devastadoras numa
família. Nós, pais, não estamos "programados" para sobreviver aos
nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a
ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte,
mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a
elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente
alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar, a
situação é de uma violência inimaginável.
No entanto, sem minimizar a carga
dramática do desaparecimento, creio que é também muito importante não esquecer
a existência de muitas crianças que estão desaparecidas, mas que, por estranho
que possa parecer, estão à vista. São situações com contornos menos trágicos e
óbvios que por desatenção passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas
crianças e jovens que vivem à beira de pais e professores, de nós, e passam
completamente despercebidas, são as que designo por crianças transparentes,
olhamos para elas, através delas, como se não existissem. As razões são muitas
e as mais vulneráveis tornam-se mais transparentes. Não estando desaparecidas,
estão abandonadas. A pandemia criou situações de maior vulnerabilidade. Algumas
delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e
desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar,
um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que
lhes faça companhia ou a adrenalina de quem nada tem para perder.
Nos tempos que vivemos o risco da
existência de crianças desaparecidas que estão à vista é real e em boa parte
das situações e por diferentes razões por estes ninguém procura.
E alguns, por vezes, também se perdem de vez.
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