quarta-feira, 31 de maio de 2023

REDES SOCIAIS, ADOLESCENTES E JOVENS

 No DN divulgam-se dados de um estudo realizado desenvolvido pela Dove no Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Brasil, Estados Unidos, Canadá e Portugal relativamente à utilização das redes sociais. Em Portugal foram inquiridos 1200 jovens e pais.

Entre outros dados que merecem reflexão, cerca de 86% dos jovens considera sentir-se viciado na utilização das redes sociais, a média europeia é de 78%, e 90% utilizam-nas desde os 13 anos. Também 80% dos jovens prefere comunicar através das redes sociais, em vez de pessoalmente e admite sentir-se desconfortável quando não pode aceder.

Em relação aos pais, 48% afirma um sentimento de culpa pelo comportamento dos filhos, 52% sente que o peso das redes sociais na autoestima e a confiança dos seus filhos é superior à sua e 40% confirma que os conteúdos terão impacto negativo na saúde mental dos filhos.

As referências recorrentes ao tempo excessivo e aos riscos associados à ligação que muitas crianças e adolescentes estabelecem com a net nas suas múltiplas possibilidades designadamente as redes sociais, são, por assim dizer, um sinal dos tempos e os dados deste trabalho são particularmente elucidativos.

Relativamente à forma de lidar com esta quadro creio que, tal como noutras áreas o recurso privilegiado a estratégias proibicionistas não funciona ainda que sejam imprescindíveis dispositivos de regulação.

Numa nota prévia que creio que enquanto não olharmos para questões destas natureza, como de outras, como os consumos, álcool, tabaco ou droga nas múltiplas variantes, como sendo um problema das comunidades e exigir estratégias de impacto comunitário, dificilmente conseguiremos alterar os comportamentos dos mais novos.

Dito de outra maneira e a propósito das redes sociais, enquanto a relação que muitos de nós, adultos, temos com este universo assumir, genericamente, o perfil que conhecemos, não vale a pena acreditar que se altera significativamente o padrão de utilização dos mais novos. No entanto e como é óbvio por tudo o que sabemos, é imprescindível a tentativa de alterar comportamentos em crianças e adolescentes.

Neste sentido, e como muitas vezes escrito e afirmado, a promoção de uma utilização auto-regulada e informada parece-me uma estratégia mais adequada. A net e o mundo de oportunidades, benefícios e riscos que está presente em todas as suas potencialidades é uma matéria que deve merecer a reflexão de todos os que lidam com crianças e jovens embora não lhes diga exclusivamente respeito. É o nosso trabalho, como também é nosso trabalho a exigência por mais eficazes dispositivos de controle de acesso e na natureza dos conteúdos embora esta seja o caminho mais difícil.

Mesmo nos tempos “normais”, seja lá isso o que for, a que estamos a voltar, muitas crianças e adolescentes têm um ecrã como companhia em casa durante o pouco tempo que a escola "a tempo inteiro" e as mudanças e constrangimentos nos estilos de vida das famílias lhes deixam "livre". Também é verdade que a crescente "filiação" em redes sociais virtuais pode “disfarçar” o fechamento, juntando quem “sofre” do mesmo mal e o tempo remanescente para estar em família, frequentemente ainda é passado à sombra de um ecrã.

Estas matérias, a presença das novas tecnologias na vida dos mais novos e os riscos potenciais, por estranho que pareça, são problemas menos conhecidos para muitos pais. Aliás, existem demasiadas situações em que desde muito cedo os “smartphones” ou outros dispositivos funcionam como “babysitters”. As dificuldades sentidas por muitas famílias na ajuda aos filhos em tempo de ensino não presencial, mostrou isso mesmo, baixos níveis de literacia digital. Considerando as implicações sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para que a utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes minimizando os riscos existentes nos “alçapões da net” muitas com riscos e consequências bem graves ou fatais.

Por outro lado, a experiência mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias. Sabemos que estratégias proibicionistas tendem a perder eficácia com a idade.

Creio que o caminho terá de passar por autonomia, supervisão, diálogo e informação que estimulem auto-regulação e muita atenção aos sinais que crianças e adolescentes nos dão sobre o que se passa com elas, sobretudo a situações que possam estar associadas a mal-estar, que podem ser como que portas abertas para cair num alçapão com consequências imprevisíveis.

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