Desta vez o choque e o horror aconteceram na Sérvia. Em dias consecutivos um adolescente de 14 anos matou 8 colegas de escola e um jovem de 21 matou também 8 pessoas sendo que dos dois episódios também resultaram vários feridos.
Acrescenta-se mais um marco
trágico num caminho que já vai longo, demasiado longo. Recorde-se alguns dos
mais brutais, Suzano, Brasil, (2022), Uvalde (2022), Santa Fé, Texas e
Parkland, (2018), Columbine (1999), Virgina Tech (2007) ou Sandy Hook (2012).
Em cada momento desta trágica
natureza invade-nos um sentimento de perplexidade. Porquê?
No que diz respeito aos Estados
Unidos a insanidade do quadro legal de acesso às armas é por demais evidente e
constitui uma variável crítica que, no entanto, não explica tudo.
Acontecem com regularidade
episódios desta natureza ainda que alguns com menor gravidade e são mais do que os citados e em diferentes geografias como Noruega, Finlândia ou França.
Em alguns casos, lembro-me, por
exemplo, dos distúrbios de há uns anos em Inglaterra em que os comportamentos
observados se assemelhavam grotescamente a um videojogo violento com
personagens reais.
Também em Portugal se têm
verificado alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar de
terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os nossos
valores, modelos educativos, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
Esta perplexidade exige a
necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação
do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e
adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente
despercebidas, mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior
insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por
duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva,
possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e
agressividade. Uma outra via em que aumenta exponencialmente o risco de um pico
que pode ser um tiroteio numa escola ou noutro espaço público, a bomba
meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém
arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina",
em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói
valores e gente. O adolescente de 14 anos envolvido num dos dois episódios de
agora é referido com muito reservado.
É evidente que a punição e a
detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade
perigosamente presente na nossa comunidade, mas é minha forte convicção de que
só punir e prender não basta assim, como apenas a mudança do quadro legal de
acesso a armas não faria, só por si, com que não acontecessem episódios desta
dimensão trágica.
Sabendo que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da insegurança.
Importa ainda definir estratégias mais proactivas e eficientes para minimizar a exclusão, o abandono e insucesso educativo, o "mal-estar" psicológico, a guetização e, com frequência, a desocupação de quem não estuda, nem trabalha.
Para estas pessoas, o futuro passa por onde, por quem e porquê?
Sem comentários:
Enviar um comentário