A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou um relatório “Resultados Escolares: Sucesso e Equidade” que analisa os chamados percursos de sucesso, alunos que finalizam o ciclo de estudos nos anos previstos. De acordo com este indicador, em 2021 e considerando o número de anos de cada ciclo, 91% dos alunos do 1º ciclo, 95% do 2º ciclo, 90% do 3º ciclo, 77% dos cursos Científico-Humanísticos do secundário e 70% dos Cursos Profissionais, concluíram no tempo previsto. Também a disparidade de resultados entre alunos com apoio da Acção Social Escolar e alunos não carenciados baixou.
Aparentemente são resultados
positivos, mas … lá vêm as dúvidas "chatas" que teimo em sentir embora preferisse o
contrário.
Vejamos a razão destas dúvidas. A
Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência também divulgou o estudo "Provas
Finais e Exames Nacionais | Principais Indicadores – 2022". Considerando
apenas o 3ª ciclo (não temos avaliação externa final no 1º e 2º ciclo) em
2022 e em Português a média foi de 2,9 na escala de 1 a 5 com 63% de notas
positivas. Em Matemática apenas 42% dos alunos tiveram positiva com uma
resultado médio de 2,5.
Como tenho escrito, a transição
será um indicador de sucesso, mas sugere alguma prudência conhecendo o nosso
sistema educativo e a forma como, por vezes, é gerida a “passagem” de ano dos
alunos. Ontem também foi notícia a intenção do ME de agravar a penalização por
excesso de “generosidade” nas avaliações internas das escolas. Esta simpatia e
generosidade acontece sobretudo no privado embora exista também em escolas
públicas.
Neste contexto torna-se imprescindível
a existência de dispositivos de avaliação externa com uma função reguladora que
as actuais provas de aferição não cumprem. Uma avaliação externa de aferição
teria de ser realizada no ano final de cada ciclo e não nos anos intermédios,
2º, 5º e 8º ano, em que os alunos estão a meio do seu caminho de um ciclo.
Se considerarmos como termo
aproximado de comparação e com todas as reservas recordo que nas provas de
aferição de 2021, no 5º e no 8º ano a percentagem de alunos que respondeu sem
dificuldades, variou, conforme os domínios em avaliação, entre 2,7% e 44,2%,
sendo que na maioria dos domínios analisados ficou abaixo dos 20%.
Ora estes dados parecem apresentar pouca coerência entre os resultados das provas de aferição com os
indicadores de sucesso que são baseados nas taxas de completamento dos ciclos
nos anos definidos, discrepância também presente nos resultados das provas
finais do 9º ano. Dito de outra maneira, será que o sucesso significa
conhecimentos e competências adquiridas ou a “passagem” de ano?
Assim, poderemos interpretar a
transição de ano como sucesso na aprendizagem de competências e saberes ou
teremos de considerar que ter sucesso é a “a passagem de ano” na velha lógica
de “transita, mas não progride”?
De facto, o que conhecemos
através das provas de aferição e de provas nacionais não parece compatível com
os indicadores de transição. Já aqui tenho abordado a questão a propósito de
resultados de outros anos escolares.
Acresce o facto deste grupo de
alunos ter passado pela experiência dos confinamentos com um confirmado impacto
nas aprendizagens.
Importa sublinhar com muita
clareza que levantar esta questão não significa a defesa da retenção como
ferramenta de sucesso e qualidade. Não é, sabemos que o “chumbo”, só por si,
não gera sucesso e qualidade. Nenhuma dúvida sobre isto.
E volto a insistir. A qualidade
promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das
aprendizagens e com regulação externa, sim, naturalmente, mas também com a
avaliação justa e competente do trabalho dos professores e das escolas, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado
das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar e que significam
conhecimentos e competências adquiridas.
É o que ainda não conseguimos
fazer acontecer de forma consistente, generalizada e sustentada em Portugal,
apesar da imensidade de projectos, iniciativas, inovação, actividades que,
demasiadas vezes chegam do exterior às escolas, podem ser interessantes … mas
não são mágicos, por mais que num exercício de "wishful thinking" os
queiramos entender e vender como tal.
Não vale a pena insistir.
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