A imprensa divulgou dados de um inquérito realizado Lundbeck Portugal, farmacêutica especializada em doenças neurológicas e psiquiátricas, que merecem atenção, 33,6% dos inquiridos refere que já teve um diagnóstico de depressão, 62,1% já terá sentido sintomas de depressão em algum momento e 77,3% têm um familiar ou amigo com diagnóstico de depressão. São, na verdade, dados preocupantes, mas não surpreendentes.
A generalidade dos estudos sobre
saúde mental em Portugal sugere uma alta incidência de problemas nesta área e a
tendência de subida mantém-se.
De acordo com o Infarmed, nos
primeiros seis meses de 2022 venderam-se 10.871.282 de embalagens de
ansiolíticos, sedativos, hipnóticos e antidepressivos, cerca de 60000 por dia,
um acréscimo de 4,1% face a 2021 traduzindo-se num encargo de 32,5 milhões de
euros para o SNS.
A estes dados faltará o volume
de situações de mal-estar não abordadas através dos fármacos, as não tratadas e
o contributo da automedicação apesar da exigência de prescrição médica para
este consumo. Este quadro levará a que o número de consumidores seja superior
às prescrições e número global de situações de mal-estar seja bem superior aos
indicadores de consumo.
Ainda não há muito tempo aqui
referi um estudo divulgado em 2021 realizado pelo investigador na área da
economia da saúde da Nova SBE, Pedro Pita Barros, “Acesso a cuidados de saúde -
As escolhas dos cidadãos 2020, em que se referia que 10% dos portugueses não
vão ao médico quando sentem algum mal-estar e que desta população, 63% recorre
à automedicação.
Um estudo coordenado pela Escola
Superior de Enfermagem de Coimbra durante o ano lectivo 21/22 envolvendo 5.440
jovens, com uma idade média de 14 anos e de mais de 150 escolas do Continente e
Madeira encontrou sintomas de depressão em 42% dos adolescentes. Este este
aumento está em linha com outros estudos, nacionais e internacionais.
Os efeitos da pandemia e as
dificuldades que agora se vivem terão um impacto severo no bem-estar de pessoas
e famílias.
Como salienta Miguel Xavier,
coordenador nacional das políticas da Saúde Mental “Os problemas de Saúde
Mental previnem-se antes de aparecerem. Através de bons programas de
parentalidade, bons programas sociais, como os programas de apoio às populações
vulneráveis”, o que envolve a necessidade de políticas integradas, mas também
sublinha a importância dos recursos adequados.
Esperemos que o processo de
reforma dos serviços de saúde mental que está em curso possa ter um impacto
positivo. A saúde mental tem sido o parente pobre das políticas públicas de
saúde.
Existe muita gente a passar mal,
pode ser na casa ao lado.
No entanto, como agora se diz,
somos resilientes e queremos viver, seremos capazes de continuar.
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