Nos dias do Alentejo, a lida determinou para a manhã a monda do alho francês e o princípio da tarde, como habitualmente, para verificar as caixas de mail e responder a quem é devido e alguma leitura. Mais à tarde será tempo para regar que o tempo vai malino com a falta de água e a ventaneira que ainda mais seca a terra e lhe tira à vida. Este ano já quase não se encontram papoilas para o ramo da espiga que ontem deveria ser feito.
Entre o mail pessoal e
profissional, como sempre, tinha um número significativo de mensagens, boa
parte das quais para eliminar. Dei por mim a pensar como, para além do telefone
comunicávamos com os outros lá para trás no tempo, coisa de velho, já se vê.
Na verdade, as cartas e postais
de natureza pessoal estão, lamentavelmente, sobrevivendo a alguma comunicação
institucional e a publicidade que também entra pela caixa do correio.
São os carteiros que as trazem e
que, em muitos locais, mais do que imaginamos quando vivemos em zonas urbanas,
conhecem os destinatários e prestam um serviço que é bem mais do que a entrega
de correspondência ou encomendas.
Ainda me lembrei com alguma
saudade do Sr. Gonçalves, o carteiro da minha zona quando eu era adolescente. O
Sr. Gonçalves que já partiu há alguns anos, era um homem de grandes bigodes,
forte, tinha que o ser para transportar aquele enorme saco de cabedal castanho,
e amigo da gente nova. Era uma figura.
Vou partilhar um segredo convosco,
mas peço que mantenham a devida reserva, sobretudo não contem aos meus netos, não
seria um bom exemplo. Durante algum tempo, o Sr. Gonçalves e eu tivemos um
acordo. Ele mostrava-me os postais que vinham do liceu dirigidos ao meu pai com
as notas e as faltas e eu quando o encontrava à tarde de vez em quando pagava
uma cerveja na tasca do meu tio. Já vos tenho dito que não fui um aluno
brilhante, longe disso, e no que respeita ao comportamento, é melhor nem falar.
A cumplicidade com o Sr. Gonçalves no sentido de, por amor filial que
compreenderão, proteger o meu pai de notícias menos agradáveis, era conseguida,
eu acho, porque ele, no fundo, acreditaria que talvez eu não fosse um caso
perdido. E não era, ele entendia de miúdos.
E eu gostava do carteiro, do Sr.
Gonçalves, era um bom homem.
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