A professora Ana Moniz, professora de educação especial (não sei se ainda pode escrever assim) no Agrupamento no Agrupamento de Escolas Fernão do Pó, Bombarral, venceu a edição 2023 do Global Teacher Prize Portugal.
Uma saudação à professora Ana
Moniz e algumas notas repescadas.
Apesar de algumas reservas face a
este tipo de iniciativas, creio que podem ter algum significado, sobretudo como
valor simbólico de valorização e reconhecimento do trabalho dos professores num
tempo em que tal reconhecimento e valorização são dramaticamente necessários. Os
tempos que temos vivido recentemente tornaram ainda mais evidente a importância
do seu trabalho.
No entanto, não acredito muito na
ideia do melhor professor de …
A esmagadora maioria dos
professores é competente e empenhada nesse trabalho, procurando desenvolvê-lo
com qualidade, rigor e eficácia, sem facilitismos, contrariamente ao que tantas
vezes se afirma de forma ignorante. Todos os dias, em todas as escolas muitos
professores fazem trabalhos de notável qualidade e empenho que mais
frequentemente apenas são valorizados e conhecidos … pelos seus alunos. Com
demasiada frequência esse trabalho é dificultado por muitas dimensões e
discursos das políticas públicas de educação que, mais do que contributos para
soluções nas escolas, fazem parte das dificuldades de professores, técnicos,
alunos, etc.
Como tantas vezes refiro, quando
qualquer de nós faz um esforço para recuperar lembranças positivas sobre os
professores, poucos ou muitos, com que nos cruzámos durante o nosso trajecto
escolar, creio que quase todos nos lembramos de professores que continuam na
nossa lembrança não só pelos saberes escolares que nos ajudaram a adquirir,
mas, sobretudo, por aquilo que representaram e foram para nós, ou seja, pela
forma como nos marcaram. Cada um desses professores é, certamente, o melhor
professor que conhecemos.
Por isso, cada vez mais estou
convicto de que os professores, tanto quanto ensinar o que sabem, ensinam o que
são, ou seja, existem muitos que nos ensinam, ensinaram, saberes, o que é bom e
indispensável, mas nem todos permanecem com a gente.
Parece-me sempre oportuno, mas
nestes tempos mais que nunca, acentuar a importância desta dimensão mais ética e
afectiva do ensino. Deve ser valorizada e promovida para que os miúdos possam,
posteriormente, falar dos professores que os marcaram e que, por essa razão,
continuaram com eles.
Para complementar permitam-me
recuperar uma história que já aqui coloquei, o Mestre Teixeira, o mestre de
Fusíveis.
O Mestre Teixeira foi há muitos
anos professor de uma escola que havia naquele tempo que se destinava mais a
ensinar o saber-fazer do que o saber-saber. Chamavam-lhes escolas técnicas,
umas mais dirigidas para a indústria, as industriais, outras mais dirigidas
para os serviços, as comerciais.
O Mestre Teixeira era professor
numa escola industrial e era especialista nas coisas da electricidade, sabia
tudo sobre esse mundo e tinha, isso é que o fazia ser como era, uma paixão
enorme por aquelas coisas. Algumas pessoas, o Mestre Teixeira era uma delas,
gostam que toda a gente goste das coisas que os apaixonam e era a partir dessa
paixão que ele se relacionava com os alunos.
Mas a grande virtude do Mestre
Teixeira era a sua capacidade para entender os alunos, ler os alunos, como eu
costumo dizer. Tinha uma capacidade notável de perceber o que se passavam com
os adolescentes, o que os levava aos comportamentos ou às dificuldades que
evidenciavam. Era quando ele falava qualquer coisa como "tens algum
fusível a precisar de ser visto ou a queimar". Tinha então a sabedoria para
perceber o que se passava e "arranjar" os fusíveis que não estavam em
boas condições. Tal sabedoria e faziam dele um daqueles professores que nos
marcam, ensinam o que são, mais do que o que sabem, mesmo quando sabem muito,
como era o caso do Mestre Teixeira.
Por isso toda a gente lhe chamava
O Mestre de Fusíveis. Hoje, mais do que nunca, fazem falta os Mestres de
Fusíveis.
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