No DN divulgam-se dados de um estudo realizado desenvolvido pela Dove no Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Brasil, Estados Unidos, Canadá e Portugal relativamente à utilização das redes sociais. Em Portugal foram inquiridos 1200 jovens e pais.
Entre outros dados que merecem
reflexão, cerca de 86% dos jovens considera sentir-se viciado na utilização das
redes sociais, a média europeia é de 78%, e 90% utilizam-nas desde os 13 anos.
Também 80% dos jovens prefere comunicar através das redes sociais, em vez de
pessoalmente e admite sentir-se desconfortável quando não pode aceder.
Em relação aos pais, 48% afirma
um sentimento de culpa pelo comportamento dos filhos, 52% sente que o peso das
redes sociais na autoestima e a confiança dos seus filhos é superior à sua e
40% confirma que os conteúdos terão impacto negativo na saúde mental dos
filhos.
As referências recorrentes ao
tempo excessivo e aos riscos associados à ligação que muitas crianças e
adolescentes estabelecem com a net nas suas múltiplas possibilidades
designadamente as redes sociais, são, por assim dizer, um sinal dos tempos e os
dados deste trabalho são particularmente elucidativos.
Relativamente à forma de lidar
com esta quadro creio que, tal como noutras áreas o recurso privilegiado a
estratégias proibicionistas não funciona ainda que sejam imprescindíveis
dispositivos de regulação.
Numa nota prévia que creio que enquanto
não olharmos para questões destas natureza, como de outras, como os consumos,
álcool, tabaco ou droga nas múltiplas variantes, como sendo um problema das
comunidades e exigir estratégias de impacto comunitário, dificilmente conseguiremos
alterar os comportamentos dos mais novos.
Dito de outra maneira e a
propósito das redes sociais, enquanto a relação que muitos de nós, adultos, temos com este
universo assumir, genericamente, o perfil que conhecemos, não vale a pena acreditar
que se altera significativamente o padrão de utilização dos mais novos. No entanto e como é óbvio por
tudo o que sabemos, é imprescindível a tentativa de alterar comportamentos em crianças e adolescentes.
Neste sentido, e como muitas
vezes escrito e afirmado, a promoção de uma utilização auto-regulada e
informada parece-me uma estratégia mais adequada. A net e o mundo de
oportunidades, benefícios e riscos que está presente em todas as suas
potencialidades é uma matéria que deve merecer a reflexão de todos os que lidam
com crianças e jovens embora não lhes diga exclusivamente respeito. É o nosso
trabalho, como também é nosso trabalho a exigência por mais eficazes
dispositivos de controle de acesso e na natureza dos conteúdos embora esta seja
o caminho mais difícil.
Mesmo nos tempos “normais”, seja
lá isso o que for, a que estamos a voltar, muitas crianças e adolescentes têm
um ecrã como companhia em casa durante o pouco tempo que a escola "a tempo
inteiro" e as mudanças e constrangimentos nos estilos de vida das famílias
lhes deixam "livre". Também é verdade que a crescente
"filiação" em redes sociais virtuais pode “disfarçar” o fechamento,
juntando quem “sofre” do mesmo mal e o tempo remanescente para estar em
família, frequentemente ainda é passado à sombra de um ecrã.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos mais novos e os riscos potenciais, por estranho
que pareça, são problemas menos conhecidos para muitos pais. Aliás, existem
demasiadas situações em que desde muito cedo os “smartphones” ou outros dispositivos
funcionam como “babysitters”. As dificuldades sentidas por muitas famílias na
ajuda aos filhos em tempo de ensino não presencial, mostrou isso mesmo, baixos
níveis de literacia digital. Considerando as implicações sérias na vida diária
importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para que a
utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora da qualidade de
vida das crianças e adolescentes minimizando os riscos existentes nos “alçapões
da net” muitas com riscos e consequências bem graves ou fatais.
Por outro lado, a experiência
mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou
orientação nestas matérias. Sabemos que estratégias proibicionistas tendem a
perder eficácia com a idade.
Creio que o caminho terá de
passar por autonomia, supervisão, diálogo e informação que estimulem
auto-regulação e muita atenção aos sinais que crianças e adolescentes nos dão
sobre o que se passa com elas, sobretudo a situações que possam estar
associadas a mal-estar, que podem ser como que portas abertas para cair num
alçapão com consequências imprevisíveis.