Como sabemos foi decidido que as provas de aferição do 2º, 5º e 8º ano deste ano lectivo serão realizadas por todos os alunos em formato digital. De acordo com o Público os alunos serão distribuídos por dois turnos em cada dia para que haja equipamentos para todos.
Confesso alguma perplexidade e
inquietação. Parece depreender-se desta decisão que não existem recursos nas
escolas para que os alunos de três anos de escolaridade acedam em simultâneo a
equipamentos digitais. Não que me surpreende a insuficiência, preocupam-me
os meandros da desmaterialização. Algumas notas.
Em primeiro lugar parece claro
que em múltiplas áreas e, naturalmente, também na educação, a transição digital
parece incontornável e torna necessária a utilização das ferramentas digitais
de forma generalizada e integrada nos processos de ensino e aprendizagem, bem
como em todos os processos relativos à organização e funcionamento escolar e do
sistema no seu todo. Nenhuma dúvida sobre isso. Sem meios digitais não podia
estar a escrever este texto.
Em segundo lugar é fundamental
que a transição digital não faça parte do problema, mas da solução o que, por
exemplo, a burocratização “platafórmica” que se verifica na vida de escolas e
professores parece sugerir.
E a verdade é que existem queixas
frequentes relativas ao acesso a equipamentos atempado por parte dos alunos, à
qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os directores de escolas e
agrupamentos não parece ser a sua especificação mais relevante, os recursos
necessários à adequada utilização dos equipamentos, mas escolas, em particular
nas salas de aulas, infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por
exemplo. Deste cenário podem decorrer situações sérias de desigualdade entre escolas e entre alunos.
Por outro lado, por razões e
responsabilidades conhecidas, estão a chegar às escolas cidadãos com formação
científica em diferentes domínios, mas sem formação para a docência. Chama-se
“desprofissionalização” que se atenuará com uma onda de “capacitação” e com o
jeito e boa vontade que, obviamente, todos terão. Professor é uma profissão
fácil como se sabe.
Temo que este movimento imparável
de desmaterialização da educação possa vir a envolver a desmaterialização dos
professores, substituindo-os algo como
uns(umas) Siri(s).
Quanto aos alunos, bom, a esses
parece impossível desmaterializá-los.
Estamos e vamos certamente continuar perante uma realidade que se pode chamar de desafiante.
Como por aqui dizemos, deixem lá ver.
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