A propósito da transição digital, da desmaterialização na área da educação, trajecto que, do meu ponto de vista, deve ser ponderado, tranquilo, com recursos atempados e não à boleia do deslumbramento, uma história.
Um dia destes a Sara, professora
de gente pequena, encontrou-se no bar da escola com o Professor Velho, o
que está na biblioteca e fala com os livros. A conversa, para não variar, foi sobre
o trabalho de ensinar e aprender.
Estava a lembrar-me da reunião
que ontem tivemos. Velho, que me dizes sobre a utilização cada vez mais
presente dos computadores com os gaiatos pequenos, agora até as provas de
aferição serão em formato digital? Estás contra ou a favor?
Na minha idade já nem sempre
consigo estar de forma definitiva, contra ou favor de muitas coisas. A questão
dos computadores na sala de aula com os miúdos pequenos é um exemplo, acho que
não se pode discutir assim.
Então?
Como é evidente os
computadores e os recursos digitais fazem parte da nossa vida em múltiplas
dimensões. Assim sendo, considerando que a escola deve lidar e colocar os
miúdos a lidar com as coisas da vida, os recursos digitais devem aparecer e
integrar-se, no trabalho "sério" ou nas brincadeiras, é uma questão
de bom senso e de mudança necessária e é fundamental que envolva todos os alunos, que os recursos sejam suficientes. Por outro lado, quando se começa a mexer
nas letras, a juntá-las e a escrever, parece-me muito importante que as mãos
escrevam, desenhem as letras, construam as histórias. Às vezes dizem que os
miúdos se motivam mais porque os computadores são inovadores. É um equívoco, os
miúdos motivam-se por aquilo que gostam e aprendem a gostar. E para aprender a
gostar também é preciso saber fazer. Repito, parece-me essencial que as mãos
conheçam as letras, como elas se desenham, como elas se juntam e o que elas são
capazes de dizer. Utilizar o computador será útil para algumas outras tarefas
ou actividades que não substituem escrever e construir textos com as mãos. Aliás
creio que mesmo nós, adultos, ainda utilizamos o escrever à mão em múltiplas
situações.
Sabes que tanto como a cabeça
ensina as mãos, as mãos ensinam a cabeça. Quando as mãos e a cabeça aprendem e
sabem, então o computador também já pode ser uma caneta. Dá para entender Sara?
É por isso que estou contra e a favor do uso dos computadores pelos gaiatos
pequenos ou, se preferires, a favor e contra.
Parece simples Velho.
Mas não é, temos de procurar equilíbrio
e os recursos para que ferramentas que se integram no processo de ensino e aprendizagem
não criem problemas à aprendizagem e ao ensino.
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