No Expresso encontra-se um podcast da série a Beleza das Pequenas Coisas com título “Especial Inclusão: até que ponto a frase “todos diferentes, todos iguais” se sente na lei e no quotidiano das pessoas com deficiência?. É centrado na questão da inclusão e das condições de vida das pessoas com deficiência. Merece atenção e ajuda a compreender o que está por fazer para cumprir os direitos inalienáveis de todas as pessoas.
Os problemas que afectam as minorias dificilmente deixarão
de ser problemas percebidos como minoritários e em tempos de maiores
dificuldades os mais vulneráveis estão ainda mais expostos. Algumas notas em
linha com o que muitas vezes aqui escrevo.
Na verdade, boa parte dessas dificuldades decorre do que as
comunidades e as suas lideranças, políticas por exemplo, entendem ser os
direitos, o bem comum e o bem-estar das pessoas, de todas as pessoas.
Também para as crianças com necessidades especiais e
respectivas famílias, área que melhor conheço, a vida é muito complicada face à
qualidade e acessibilidade aos apoios e recursos educativos e especializados
necessários. Não esqueço os bons exemplos e práticas que conhecemos, assim como
sei do empenho e profissionalismo da maioria dos profissionais que trabalham
nestas áreas.
Uma referência ainda ao que deve ser um princípio não
negociável, a inclusão em todos os domínios da vida das comunidades.
É verdade que a questão da inclusão, em particular da
inclusão em educação, é presença regular nos discursos actuais. É objecto de
todas as apreciações, ilumina todas as perspectivas e acomoda todas as
práticas, incluindo a “entregação” que manifestamente não promove inclusão,
antes pelo contrário. Apesar do bom trabalho que existe e deve ser sublinhado,
por vezes, demasiadas vezes, confunde-se colocação educativa, crianças com
necessidades especiais na sala de aula regular, com inclusão. Aliás, até a
exclusão de muitos alunos da sala de aula e das actividades comuns é
frequentemente realizada … em nome da inclusão. E não acontece nada. A situação
dura e já longa que atravessamos veio agudizar a situação.
O termo está tão desgastado que já nem sabemos bem o que
significa. Não esqueço o que positivo se faz, mas também não esqueço tantas práticas e
tantos discursos que alimentam exclusão e que são desenvolvidas e enunciados
... em nome da inclusão. Tantas vezes me lembro do Mestre Almada Negreiros que
na "Cena do Ódio" falava da "Pátria onde Camões morreu de fome e
onde todos enchem a barriga de Camões".
A inclusão assenta em cinco dimensões fundamentais, Ser
(pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que se pertence da mesma forma
que estão todas as outras pessoas), Participar (envolver-se activamente da
forma possível nas actividades comuns), Aprender (tendo sempre por referência
os currículos gerais) e Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da
comunidade). A estas cinco dimensões acrescem dois princípios inalienáveis,
autodeterminação e autonomia e independência.
Não é por muito afirmar a a inclusão que a educação ou o quotidiano se tornam inclusivos, o pensamento mágico tantas vezes expresso não é a
realidade.
As pessoas com deficiência não precisam de tolerância, não
precisam de privilégios, não precisam de caridade, precisam só de ver os seus
direitos considerados. Os direitos não são de geometria variável cumprindo-se
apenas quando é possível.
Este é o caderno de encargos que nos convoca a todos, todos os anos, todos os dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário