Volta e meia, as mais das vezes sem motivo aparente, lembro-me de algumas expressões que fazem parte da minha história, mas que, por uma razão ou por outra, quase desapareceram de circulação.
Hoje apareceu vinda lá de longe
uma designação que era muito do agrado da minha professora da Primária, a D.
Conceição e de outros adultos da altura, os "carapaus de corrida".
Devo confessar que não me passa pela ideia a origem de tal pérola, mas que nos
enchiam os ouvidos com ela, lá isso enchiam.
Perante qualquer comportamento ou
atitude menos conforme o espírito submisso e aquietado da época, lá vinha um
"não te armes em carapau de corrida" seguido, quase sempre, de uma
ameaça que naquele tempo era para levar a sério, vinda de pais ou professores.
Na minha turma o destino juntou
um bom número de "carapaus de corrida". Como o povo costuma dizer,
não é para me gabar, mas fazíamos uns disparates dos bons e, claro, a D.
Conceição lá vinha com a sua apreciação e com alguma frequência, os
"carapaus de corrida" corriam para a frente da secretária para um
pequeno e acalorado encontro com a régua que descansava na gaveta de cima.
Enquanto ouvíamos qualquer coisa como, "para não te armares em carapau de
corrida" as barbatanas, perdão, as mãos, ganhavam um tom avermelhado e um
calor que nos dava frio.
Um dia, o Fernando, já vos falei
dele, um dos nossos heróis quando roubou a régua que fomos partir para fora da
escola e talvez o melhor "carapau de corrida" do grupo teve mais uma
das suas muitas obras primas. Quando pela enésima vez a D. Conceição referiu os
inevitáveis "carapaus" retorquiu que aquela sala parecia mesmo um
aquário. Antes que a professora reagisse explicou que com "tantos carapaus
e uma baleia" aquilo já era um aquário não era uma escola.
Naquele dia, quando fomos para o
recreio o Fernando, o herói, ainda tinha dificuldade em segurar os berlindes,
tal o ardor das mãos.
Mas isto é uma história do tempo
em que havia "carapaus de corrida".
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