Lê-se no DN que em 2021 foram retiradas das ruas mais de 700 pessoas sem-abrigo totalizando cerca de 1800 o número de pessoas que saíram dessa condição nos últimos dois anos.
Segundo Henrique Joaquim, coordenador da Estratégia Nacional
para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo este resultado decorre
da existência de "muito mais pessoas no terreno a intervir, a sinalizar e
a identificar estas situações", e o "aumento de uma forma brutal das
respostas de acolhimento, mudando o paradigma da intervenção". Estima-se
que em 2021 existiriam cerca de 9000 pessoas nesta condição. Apesar da
melhoria na prevenção e intervenção, o caminho a percorrer é ainda muito e
difícil. E mais difícil se torna em tempos de dificuldades acrescidas das
comunidades.
Henrique Joaquim referiu ainda aos recursos para medidas no
âmbito do acolhimento e a criação de comunidades de inserção no âmbito do Plano
de Recuperação e Resiliência.
Considerando a experiência de Henrique Joaquim e a sua
própria avaliação dos recursos e vontades disponíveis quero acreditar num processo com alguns resultados. A ver vamos.
No entanto, parece-me que não devemos esquecer que é muito
grande o mundo dos sem-abrigo. São muitos, demasiados, os sem-abrigo do mundo.
São muitos, os sem-abrigo num porto que os acolha, uma casa,
uma família, um espaço a que dêem vida e que lhes apoie a vida.
São muitos, os sem-abrigo, mesmo em famílias e em
instituições.
São muitos, os sem-abrigo no afecto, nos afectos, sem um
coração que os abrigue.
São muitos os sem-abrigo em escolas onde não cabem.
São muitos, os sem-abrigo em mundos que não são seus. São
muitos, os sem-abrigo em culturas que não entendem e que não querem
entendê-los.
São muitos, os sem-abrigo num corpo que seja aconchego para
o seu corpo.
São muitos, os sem-abrigo em valores que predominam, mas não os reconhecem.
São muitos, os sem-abrigo em vidas que lhes não pertencem,
mas carregam. São muitos, os sem-abrigo no aceder e no gostar das coisas de que
a vida também se tece.
Muitos destes sem abrigo vivem à nossa beira, sem-abrigo,
não contabilizados, nem contabilizáveis.
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