Na imprensa de hoje retoma-se a questão dos “desafios” a que nas redes sociais crianças e adolescentes são estimulados a responder com graves riscos envolvidos. O recente e trágico caso da criança inglesa que faleceu após ter respondido ao “Blackout Challenge", um dos vários “desafios” que surgem no TikTok, constitui um exemplo dramático.
Muito se tem escrito e divulgado sobre estes processos,
sobre a forma como se desenrolam, sobre os riscos das redes sociais ou jogos, precauções a considerar por pais e educadores e, por outro lado, o acréscimo de atenção
dirigida a crianças ou adolescentes que, por várias razões, podem estar em situação de
maior vulnerabilidade. É imprescindível estarmos "por dentro" deste contexto.
Por outro lado, a “net” é um mundo em constante e rápida
mudança o que dificulta a supervisão e controlo dos mais novos sobre a sua
utilização.
No entanto, é de sublinhar que dados do Estudo Internacional
de Alfabetização em Informática e Informação (ICILS) envolvendo 11 países e
divulgados em 2020 sugerem que os alunos portugueses são os mais bem preparados
para usar a internet de forma responsável, ainda que os dados relativos aos
riscos sejam, de facto, inquietantes.
As referências recorrentes ao tempo excessivo e dos riscos
associados que que muitas crianças e adolescentes despendem com a ligação à net
nas suas múltiplas possibilidades designadamente as redes sociais e os riscos
associados são, por assim dizer, um sinal dos tempos.
Relativamente à forma de lidar com esta quadro creio que, tal
como noutras áreas o recurso privilegiado a estratégias proibicionistas não
funciona.
São mais eficientes a promoção da utilização auto-regulada e
informada. A net e o mundo de oportunidades, benefícios e riscos que está
presente em todas as suas potencialidades é uma matéria que deve merecer a
reflexão de todos os que lidam com crianças e jovens embora não lhes diga
exclusivamente respeito. É o nosso trabalho, como também é nosso trabalho a
exigência por mais eficazes dispositivos de controle de acesso e na natureza dos
conteúdos.
Mesmo em tempos “normais”, seja lá isso o que for, a que
parece estarmos a voltar, em casa, muitas crianças têm um ecrã como companhia
durante o pouco tempo que a escola "a tempo inteiro" e as mudanças e
constrangimentos nos estilos de vida das famílias lhes deixam "livre".
Também é verdade que a crescente "filiação" em redes sociais virtuais
pode “disfarçar” o fechamento, juntando quem “sofre” do mesmo mal e o tempo
remanescente para estar em família, frequentemente ainda é passado à sombra de
uma televisão.
Estas matérias, a presença das novas tecnologias na vida dos
mais novos e os riscos potenciais, por estranho que pareça, são problemas menos
conhecidos para muitos pais. Aliás, as dificuldades sentidas por muitas
famílias na ajuda aos filhos em tempo de ensino não presencial, mostrou isso
mesmo, baixos níveis de literacia digital. Considerando as implicações sérias
na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos
pais para que a utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora da
qualidade de vida das crianças e adolescentes minimizando os riscos existentes
nos “alçapões da net”. Existem demasiadas situações em que desde muito cedo os
“smartphones” ou outros dispositivos funcionam como “babysitters”.
Por outro lado, a experiência mostra-me que muitos pais
desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias.
Sabemos que estratégias proibicionistas tendem a perder eficácia com a idade.
Creio que o caminho terá de passar por autonomia,
supervisão, diálogo e informação que estimulem auto-regulação e muita atenção aos sinais que crianças e adolescentes nos
dão sobre o que se passa com elas, sobretudo a situações que possam estar
associadas a mal-estar, que podem ser como que portas abertas para cair num
alçapão com consequências imprevisíveis.
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