Em linha com o que tem vindo a ser afirmado, talvez para ir preparando o caminho, o ME anunciou, "Estamos a ultimar uma alteração ao despacho para habilitações para a docência que vai permitir alterar e alargar o leque de candidatos para a docência".
Não tenho dúvidas de que seja
necessário ajustar o modelo de acesso à carreira, até independentemente das actuais circunstâncias, de falta
de professores.
Vamos aguardar para ver a
natureza das alterações, mas, como também já tenho referido, temo o risco de
“desprofissionalização” dos docentes. Esta “desprofissionalização” pode ir
acontecendo através de medidas desta natureza, mas também através da timidez na
promoção da autonomia das escolas associada aos efeitos da
"municipalização” em curso ou projectos de intervenção nas escolas
realizados em “outsourcing”.
Este movimento não é de agora e
não começou por cá. Tem vindo a fazer o seu caminho em diferentes sistemas
emergiu na década de 80 sob a designação de “deskilling” promovendo concepção
“empobrecida”, diria “embaratecida”do professor e da sua função. Nesta visão,
os docentes cumprem ordens e programas, não têm que fazer grandes escolhas,
possuir conhecimento aprofundado, solidez nas metodologias, valores éticos e
morais, etc. Seria suficiente uns burocratas, agora mais burocratas digitais a
papaguear, fabricar, aulas para grupos de alunos "normalizados".
Os professores serão basicamente
“entregadores de conteúdos”, (content delivers na formulação original),
burocratiza-se ainda mais a “medição de saberes” apoiados em fórmulas de gestão
em modelo “digito-burocrata construídas num qualquer serviço centralizado ou
com um modelo que apesar de “descentralizado” não atribui, de facto, autonomia
robusta às escolas cujo modelo de governação é parte desta equação.
Definitivamente, este não poderá ser o caminho. Não podemos correr um risco de “desprofissionalização” que pode
tornar os professores mais “baratos” e a base de recrutamento pode ser alargada,
mas o nosso futuro será mais caro por pior qualidade, um professor de … é muito
mais que um técnico de …
Todas as necessárias mudanças na
educação só podem ocorrer e ser bem-sucedidas com o envolvimento e valorização
dos professores, das suas competências e das suas carreiras, mas também,
naturalmente, com a sua avaliação justa, transparente e competente.
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