sexta-feira, 26 de agosto de 2022

NÃO PARECE UM BOM CAMINHO

 O que se vai conhecendo das eventuais alterações a introduzir no quadro de habilitações exigidas para ser professor continua a suscitar dúvidas. Por outro lado, para além do cenário crítico de falta de docentes e numa perpectiva mais global, urge repensar a carreira docente, considerando dimensões como o recrutamento, o ajustamento na formação, o modelo de carreira, o modelo de avaliação e progressão, a valorização do estatuto salarial dos docentes, a promoção da sua valorização profissional e social ou a desburocratização do trabalho dos professores, entre outros aspectos. Só mudanças integradas podem sustentar a atractividade, a estabilidade e, naturalmente, a qualidade da profissão docente.

Também não sossega a perspectiva de que que quem concorrer com o que vier a ser considerado “habilitação própria” não acede à carreira pois não resolve a falta de docentes, a questão da estabilidade e alimenta o risco da “desprofissionalização” ou, de recorrendo a uma ideia que já tenho referido a de deskilling” promovendo concepção “empobrecida”, diria “embaratecida”do professor e da sua função.

Neste quadro pode vir a desenhar-se uma visão de que os docentes cumprem ordens e programas, não têm que fazer grandes escolhas, possuir conhecimento aprofundado em diferentes áreas, solidez nas metodologias, valores éticos e morais, etc. Seria suficiente uns burocratas, agora mais burocratas digitais a papaguear, fabricar, aulas para grupos de alunos "normalizados".

Como já escrevi, os professores poderão ser então basicamente considerados como “entregadores de conteúdos”, (content delivers na formulação original), burocratiza-se ainda mais a “medição de saberes” apoiados em fórmulas de gestão “plataformizadas” em modelos “digito-burocratas" construídas num qualquer serviço centralizado ou num cenário de “descentralização” que, de facto, não promove uma autonomia robusta das escolas cujo modelo de governação é parte desta equação.

Este trajecto, a confirmar-se pode vir a tornar os professores mais “baratos” e a base de recrutamento pode ser alargada, mas o nosso futuro será mais caro por pior qualidade, um professor de … é muito mais que um técnico de …

A ver vamos, como se diz por aqui.

Sem comentários: