Ao que imprensa refere, das reuniões entre ME e a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e Federação Nacional de Educação (FNE) resultou a decisão de iniciar em Setembro um processo conducente à revisão do modelo de recrutamento e colocação dos professores. Veremos os efeitos desse processo a que se ligarão as anunciadas intenções de ajustar as habilitações exigidas para a docência. Importa que tal iniciativa, necessária e urgente, não contenha um uma um risco de “desprofissionalização” dos docentes. A ver vamos.
Das reuniões da tutela com a FNE
e a Fenprof também terá resultado a intenção de combater a burocracia que
atropela professores e escolas. Nesse sentido, o ME procederá a um levantamento
do “trabalho administrativo e burocrático dos professores, com foco principal
nos directores de turma” para “tentar reduzir a carga administrativa”, segundo
afirmação do ME.
A diminuição da carga burocrática
é imperativa. No caso da função direcção de turma é crítica pelo que o
anúncio é positivo.
É consensual que a função
Direcção de Turma assume um papel central no nosso sistema educativo, sendo,
lamentavelmente, pouco cuidadas e promovidas as condições para o seu desempenho
com qualidade. Na verdade, a actividade do DT, para usar a linguagem da escola,
tem um conjunto dimensões de extraordinária importância. Vejamos alguns
aspectos, obviamente conhecidos, sem preocupação de hierarquia.
O DT é o interlocutor dos pais e
encarregados de educação. Toda a comunicação e relação entre a família e a
escola, cuja relevância é dispensável acentuar, assentam no DT. A realização
das Reuniões de Pais e Encarregados de Educação, a comunicação regular entre
pais e escola são dispositivos da sua responsabilidade e a forma como a sua
função é desempenhada pode ser um fortíssimo contributo para o envolvimento
mais eficaz e positivo dos pais na vida escolar dos alunos.
O DT é um mediador entre os
alunos e a escola, ou seja, pode e deve ser um regulador da relação dos alunos
com os colegas, tentando perceber fragilidades ou dificuldades, com outros
professores, detectando questões ou aspectos que careçam de alguma atenção e
eventual intervenção.
O DT pode, no trabalho que
realiza com os alunos, providenciar informação, orientação, apoio, etc., para
as inúmeras dúvidas que nas diferentes idades se podem colocar. Informação
sobre o estudo e como estudar, informação sobre trajectos escolares face à
oferta educativa, promoção de competências sociais, analisando e discutindo
problemas do quotidiano escolar ou pessoal potenciando a formação pessoal dos
alunos, etc.
O DT tem um papel importante
também na promoção da articulação e coerência das intervenções educativas que
envolvem alunos com necessidades educativas especiais.
Apenas com estes exemplos, e não
passam disso, sempre entendi com alguma dificuldade que a escolha para DT não
fosse realizada fundamentalmente com critérios de perfil, motivação e
experiência dando azo a situações conhecidas de inadequação.
Neste quadro torna-se difícil entender
a carga burocrática e administrativa que foi sendo colocada nos DT inibindo a
utilização do tempo, (pouco) para a função de forma mais útil e adequada. É
óbvio que o excesso de carga burocrática na escola não é um exclusivo dos DT.
Também estranho a pouca atenção,
relativa, à formação que em regra é disponibilizada dirigida à função DT. Julgo
que aspectos como gestão de conflitos, percepção de sinais de risco nos miúdos
e nos seus comportamentos, (alunos envolvidos em episódios de bullying, por
exemplo) organização e gestão de reuniões de pais ou modelos e técnicas de
estudo, poderiam ser ferramentas úteis para o desempenho com mais qualidade
dessa função essencial.
Na verdade, quem conhece o
universo das escolas, reconhece a importância da função DT e todos conhecemos
professores que pelas suas qualidades pessoais e profissionais são muito bons
exemplos do que é ser DT.
Melhores condições para o seu o
exercício são necessárias.
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