sexta-feira, 5 de agosto de 2022

DA FUNÇÃO DE DIRECÇÃO DE TURMA

 Ao que imprensa refere, das reuniões entre ME e a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e Federação Nacional de Educação (FNE) resultou a decisão de iniciar em Setembro um processo conducente à revisão do modelo de recrutamento e colocação dos professores. Veremos os efeitos desse processo a que se ligarão as anunciadas intenções de ajustar as habilitações exigidas para a docência. Importa que tal iniciativa, necessária e urgente, não contenha um uma um risco de “desprofissionalização” dos docentes. A ver vamos.

Das reuniões da tutela com a FNE e a Fenprof também terá resultado a intenção de combater a burocracia que atropela professores e escolas. Nesse sentido, o ME procederá a um levantamento do “trabalho administrativo e burocrático dos professores, com foco principal nos directores de turma” para “tentar reduzir a carga administrativa”, segundo afirmação do ME.

A diminuição da carga burocrática é imperativa. No caso da função direcção de turma é crítica pelo que o anúncio é positivo.

É consensual que a função Direcção de Turma assume um papel central no nosso sistema educativo, sendo, lamentavelmente, pouco cuidadas e promovidas as condições para o seu desempenho com qualidade. Na verdade, a actividade do DT, para usar a linguagem da escola, tem um conjunto dimensões de extraordinária importância. Vejamos alguns aspectos, obviamente conhecidos, sem preocupação de hierarquia.

O DT é o interlocutor dos pais e encarregados de educação. Toda a comunicação e relação entre a família e a escola, cuja relevância é dispensável acentuar, assentam no DT. A realização das Reuniões de Pais e Encarregados de Educação, a comunicação regular entre pais e escola são dispositivos da sua responsabilidade e a forma como a sua função é desempenhada pode ser um fortíssimo contributo para o envolvimento mais eficaz e positivo dos pais na vida escolar dos alunos.

O DT é um mediador entre os alunos e a escola, ou seja, pode e deve ser um regulador da relação dos alunos com os colegas, tentando perceber fragilidades ou dificuldades, com outros professores, detectando questões ou aspectos que careçam de alguma atenção e eventual intervenção.

O DT pode, no trabalho que realiza com os alunos, providenciar informação, orientação, apoio, etc., para as inúmeras dúvidas que nas diferentes idades se podem colocar. Informação sobre o estudo e como estudar, informação sobre trajectos escolares face à oferta educativa, promoção de competências sociais, analisando e discutindo problemas do quotidiano escolar ou pessoal potenciando a formação pessoal dos alunos, etc.

O DT tem um papel importante também na promoção da articulação e coerência das intervenções educativas que envolvem alunos com necessidades educativas especiais.

Apenas com estes exemplos, e não passam disso, sempre entendi com alguma dificuldade que a escolha para DT não fosse realizada fundamentalmente com critérios de perfil, motivação e experiência dando azo a situações conhecidas de inadequação.

Neste quadro torna-se difícil entender a carga burocrática e administrativa que foi sendo colocada nos DT inibindo a utilização do tempo, (pouco) para a função de forma mais útil e adequada. É óbvio que o excesso de carga burocrática na escola não é um exclusivo dos DT.

Também estranho a pouca atenção, relativa, à formação que em regra é disponibilizada dirigida à função DT. Julgo que aspectos como gestão de conflitos, percepção de sinais de risco nos miúdos e nos seus comportamentos, (alunos envolvidos em episódios de bullying, por exemplo) organização e gestão de reuniões de pais ou modelos e técnicas de estudo, poderiam ser ferramentas úteis para o desempenho com mais qualidade dessa função essencial.

Na verdade, quem conhece o universo das escolas, reconhece a importância da função DT e todos conhecemos professores que pelas suas qualidades pessoais e profissionais são muito bons exemplos do que é ser DT.

Melhores condições para o seu o exercício são necessárias.

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