sexta-feira, 12 de agosto de 2022

DA ESTABILIDADE DOS PROFESSORES

 No Expresso divulga-se um trabalho realizado pelo Centro de Economia da Educação da Universidade Nova de Lisboa sobre a rotatividade do corpo docente nas escolas portuguesas considerando o período de 2008/09 a 2017/18. No último ano 90% das escolas tinham mudado 20% dos professores. No entanto, esta mudança é bastante mais elevada em escolas em que o nível de escolarização familiar (mães) é mais baixo e também em o número de alunos carenciados é mais elevado

Não é surpreendente que os profissionais que desempenham funções em contextos considerandos mais difíceis e sendo possível tentem a mudança para escolas consideradas como tendo ambientes mais tranquilos e favoráveis ao ensino e à aprendizagem.

São dados que nos merecem atenção, sabemos que a estabilidade dos corpo docente é uma variável importante na qualidade do trabalho desenvolvido nas escolas.

O Expresso recorda uma entrevista do Ministro da Educação que em Maio afirmava que trabalhar em contextos educativos mais desfavorecidos exige um conjunto de “competências que nem todos os professores têm" e ainda que os professores “não foram formados para lidar com essa diversidade, o que gera frustração. Foram formados para serem professores de bons alunos. Era como formar médicos para verem só pessoas saudáveis. A formação tem de ser reconfigurada".

Nenhuma dúvida sobre a importância da formação na qualidade do desempenho de qualquer grupo profissional e também, evidentemente, nos professores. Por outro lado, sabemos que de todas as instituições de formação de professores chegam à actividade profissional docentes com perfis bem diferenciados, ou seja, existem um conjunto de outras variáveis que estão associadas à qualidade do desempenho individual de um professor para além da formação inicial ou em serviço, embora se espere, naturalmente que sejam de qualidade e adequadas às mudanças e que inevitavelmente acontecem.

Neste sentido e começando pelo contexto escolar, o que pode contribuir para a qualidade dos territórios educativos, promovendo mais e melhor sucesso nos alunos e também maior estabilidade dos docentes passa, sem hierarquizar, pela definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.

Por outro lado, como também tenho por aqui escrito e afirmado, é urgente repensar a carreira docente, considerando dimensões como o recrutamento, o ajustamento na formação, o modelo de carreira, o modelo de avaliação e progressão, a valorização do estatuto salarial dos docentes, a promoção da sua valorização profissional e social ou a desburocratização do trabalho dos professores, entre outros aspectos.

Os autores do estudo, referem alguns destes aspectos também como contributivos para a maior fixação dos docentes.

Finalmente, uma nota para relembrar que as características contextuais estão associadas aa um conjunto de políticas públicas que envolvendo a educação, estão para além da educação, tais como, políticas sociais, de saúde, de emprego, de habitação e urbanismos, etc.

Se não conseguirmos algumas transformações vamos ter as escolas de que fogem os que podem, professores, funcionários e alunos, que servem os contextos onde só habita quem não consegue sair e alimentam-se desigualdades e dificuldades.

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