No Expresso divulga-se um trabalho realizado pelo Centro de Economia da Educação da Universidade Nova de Lisboa sobre a rotatividade do corpo docente nas escolas portuguesas considerando o período de 2008/09 a 2017/18. No último ano 90% das escolas tinham mudado 20% dos professores. No entanto, esta mudança é bastante mais elevada em escolas em que o nível de escolarização familiar (mães) é mais baixo e também em o número de alunos carenciados é mais elevado
Não é surpreendente que os profissionais
que desempenham funções em contextos considerandos mais difíceis e sendo possível tentem a mudança para escolas consideradas como tendo
ambientes mais tranquilos e favoráveis ao ensino e à aprendizagem.
São dados que nos merecem
atenção, sabemos que a estabilidade dos corpo docente é uma variável importante
na qualidade do trabalho desenvolvido nas escolas.
O Expresso recorda uma entrevista
do Ministro da Educação que em Maio afirmava que trabalhar em contextos
educativos mais desfavorecidos exige um conjunto de “competências que nem todos
os professores têm" e ainda que os professores “não foram formados para
lidar com essa diversidade, o que gera frustração. Foram formados para serem
professores de bons alunos. Era como formar médicos para verem só pessoas
saudáveis. A formação tem de ser reconfigurada".
Nenhuma dúvida sobre a importância
da formação na qualidade do desempenho de qualquer grupo profissional e também,
evidentemente, nos professores. Por outro lado, sabemos que de todas as instituições
de formação de professores chegam à actividade profissional docentes com perfis
bem diferenciados, ou seja, existem um conjunto de outras variáveis que estão
associadas à qualidade do desempenho individual de um professor para além da formação
inicial ou em serviço, embora se espere, naturalmente que sejam de qualidade e
adequadas às mudanças e que inevitavelmente acontecem.
Neste sentido e começando pelo
contexto escolar, o que pode contribuir para a qualidade dos territórios educativos,
promovendo mais e melhor sucesso nos alunos e também maior estabilidade dos docentes
passa, sem hierarquizar, pela definição de currículos adequados, com a
estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e
suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro
normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia,
organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de
objectivos de curto e médio prazo, etc.
Por outro lado, como também tenho
por aqui escrito e afirmado, é urgente repensar a carreira docente,
considerando dimensões como o recrutamento, o ajustamento na formação, o modelo
de carreira, o modelo de avaliação e progressão, a valorização do estatuto
salarial dos docentes, a promoção da sua valorização profissional e social ou a
desburocratização do trabalho dos professores, entre outros aspectos.
Os autores do estudo, referem
alguns destes aspectos também como contributivos para a maior fixação dos docentes.
Finalmente, uma nota para
relembrar que as características contextuais estão associadas aa um conjunto de
políticas públicas que envolvendo a educação, estão para além da educação, tais
como, políticas sociais, de saúde, de emprego, de habitação e urbanismos, etc.
Se não conseguirmos algumas
transformações vamos ter as escolas de que fogem os que podem, professores,
funcionários e alunos, que servem os contextos onde só habita quem não consegue
sair e alimentam-se desigualdades e dificuldades.
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