Inicia-se hoje mais uma etapa do que desejamos muito que
seja o desconfinamento do nosso contentamento. Não, não é um regresso à
normalidade, aliás e como tenho afirmado gostaria que não regressássemos a
todas as normalidades, algumas são tóxicas.
No universo da educação regressam às aulas presenciais todos
os alunos do secundário e boa parte dos alunos do superior que se manterá a
funcionar em modo misto, a maioria, ou em ensino não presencial.
Esperemos que este
regresso corra o melhor possível e no secundário o trabalho será significativamente
marcado pela preparação para os exames nacionais exigidos no acesso ao ensino
superior que decorrerá nos mesmos moldes do ano anterior.
Assim, está nas escolas o universo dos alunos em cumprimento
da escolaridade obrigatória.
No entanto, existirá
uma franja de alunos que se encontra em situação de particular vulnerabilidade
e não estou a referir-me aos alunos que por diversas razões viram de alguma
forma comprometido o seu processo de aprendizagem e para os quais se aguarda o anunciado
Plano de recuperação que estará em elaboração, para além, obviamente do que as escolas têm vindo a realizar com os recursos de que dispõem.
Estou a referir-me aos alunos que já com a experiência do
primeiro confinamento ao entrarem no segundo começaram a desaparecer do “radar”
das escolas e só com muito esforço de professores, direcções, Comissões de Protecção
muitos deles foram encaminhados para as escolas de acolhimento que estiveram
sempre em funcionamento.
Lê-se no Público que as Comissões de Protecção de Crianças
Jovens encaminharam 1250 alunos para estas escolas no segundo confinamento face
a 194 no primeiro período de encerramento das escolas. Muitas destas crianças
viviam (viverão) em contextos de perigo agravado, por não lhes ser assegurado o
direito à educação ou não lhes ser garantido um ambiente livre de violência para além de outras ameaças.
Será provável que mais atenção e respostas tenham feito
aumentar o número de alunos identificados, mas será também de admitir que alunos que já vinham de uma situação altamente vulnerável experienciada no ano
lectivo passado agravaram este ano o seu desligar da escola. Já estão em modo
presencial, mas talvez ainda não estejam, de facto, na escola enquanto espaço
de aprendizagem.
Creio que para muitos destes alunos precisaremos de não nos centrarmos
“apenas” na recuperação e consolidação das aprendizagens. Antes disso creio
que importa conseguirmos recuperar a relação com a escola.
Precisamos de recursos, tempo e intencionalidade para que se faça o
necessário para que isso aconteça e só com essa relação com a escola como espaço de aprendizagem reconstruída, virá a recuperação das aprendizagens, antes parece-me muito difícil.
Pode ser desenvolvido em paralelo, creio que sim, mas parece-me importante a
atenção à forma como olham, sentem a escola e que esta consiga abrir janelas
para caminhos que motivem, que cativem.
Só miúdos cativados pela escola, pelos professores, técnicos
e funcionários estarão disponíveis para aprender. Enquanto estiverem confinados e
enredados no seu mundo de desconforto e sem janelas com horizonte será muito
difícil.
Não é fácil, mas é possível, tem de ser e talvez não leve anos, como se refere na peça e se fala com frequência. Depende do que se fizer, como se fizer e com que recursos.
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