As actuais circunstâncias de vida, níveis de desenvolvimento, alterações nos quadros de valores, alterações nos estilos de vida, níveis de exigência e frequentemente competição, multiplicidade de solicitações, acessibilidade a recursos, conhecimento e informação quase sem limite, etc., são exigentes para a generalidade das pessoas e, naturalmente, também para as pessoas mais novas, crianças adolescentes e jovens.
Neste contexto, tem vindo a ocupar progressivo espaço e a
informar múltiplos discursos a preocupação com a forma como a generalidade de nós
é capaz de lidar com as situações mais desconfortáveis e de maior dificuldade.
Emergiu assim a ideia de resiliência, um termo em que cabe tudo
e presente na generalidade dos discursos e na forma como olhamos sobre as
diferentes áreas do nosso funcionamento. O “mantra” é a busca e promoção de
resiliência para melhor proteger ou promover o nosso bem-estar seja em que
contexto ou dimensão for.
Também no mundo da infância se multiplicam as referências
sobre a necessidade de promoção da resiliência nas crianças nos seus diferentes
contextos de vida, designadamente, familiar e escolar.
O Público preparou uma peça sobre a forma como os pais podem
ajudar as crianças a tornar-se mais resilientes para a qual solicitou uma pequena
colaboração da minha parte. Não simpatizo muito com a ideia de uma “disciplina”
na escola para ensinar resiliência, nem com uma receita, uma prescrição, para
os pais ensinarem os filhos a ser resilientes.
No entanto e apesar das diferenças individuais que não se “apagam”,
parece-me possível identificar algumas orientações que podem contribuir para promover
o bem-estar das crianças e contribuir para que melhor lidem com situações de
maior desconforto ou dificuldade.
As crianças com uma rede de amigos em que testam e percebem
limites nas relações e actividades e cooperam em torno de tarefas ou brincadeiras
tornar-se-ão provavelmente mais atentas aos outros e à sua forma de relação com
eles.
As crianças em cujos processos educativos se incentiva a
autonomia e a confiança nas suas capacidades certamente reagirão melhor em
situações mais adversas.
As crianças que percebem que existe mudança e que a mudança
é algo de natural, talvez se adaptem melhor a alterações no seu quotidiano, talvez
revelem maior “plasticidade.
As crianças que falam com naturalidade sobre si, sobre o que
sentem, o que gostam ou não gostam, serão provavelmente crianças mais seguras
em termos emocionais.
Muito mais se poderá conversar sobre estas questões, mas foi
um pouco neste sentido a minha colaboração na peça do Público.
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