sexta-feira, 2 de abril de 2021

DA RESILIÊNCIA NAS CRIANÇAS

 As actuais circunstâncias de vida, níveis de desenvolvimento, alterações nos quadros de valores, alterações nos estilos de vida, níveis de exigência e frequentemente competição, multiplicidade de solicitações, acessibilidade a recursos, conhecimento e informação quase sem limite, etc., são exigentes para a generalidade das pessoas e, naturalmente, também para as pessoas mais novas, crianças adolescentes e jovens.

Neste contexto, tem vindo a ocupar progressivo espaço e a informar múltiplos discursos a preocupação com a forma como a generalidade de nós é capaz de lidar com as situações mais desconfortáveis e de maior dificuldade.

Emergiu assim a ideia de resiliência, um termo em que cabe tudo e presente na generalidade dos discursos e na forma como olhamos sobre as diferentes áreas do nosso funcionamento. O “mantra” é a busca e promoção de resiliência para melhor proteger ou promover o nosso bem-estar seja em que contexto ou dimensão for.

Também no mundo da infância se multiplicam as referências sobre a necessidade de promoção da resiliência nas crianças nos seus diferentes contextos de vida, designadamente, familiar e escolar.

O Público preparou uma peça sobre a forma como os pais podem ajudar as crianças a tornar-se mais resilientes para a qual solicitou uma pequena colaboração da minha parte. Não simpatizo muito com a ideia de uma “disciplina” na escola para ensinar resiliência, nem com uma receita, uma prescrição, para os pais ensinarem os filhos a ser resilientes.

No entanto e apesar das diferenças individuais que não se “apagam”, parece-me possível identificar algumas orientações que podem contribuir para promover o bem-estar das crianças e contribuir para que melhor lidem com situações de maior desconforto ou dificuldade.

As crianças com uma rede de amigos em que testam e percebem limites nas relações e actividades e cooperam em torno de tarefas ou brincadeiras tornar-se-ão provavelmente mais atentas aos outros e à sua forma de relação com eles.

As crianças em cujos processos educativos se incentiva a autonomia e a confiança nas suas capacidades certamente reagirão melhor em situações mais adversas.

As crianças que percebem que existe mudança e que a mudança é algo de natural, talvez se adaptem melhor a alterações no seu quotidiano, talvez revelem maior “plasticidade.

As crianças que falam com naturalidade sobre si, sobre o que sentem, o que gostam ou não gostam, serão provavelmente crianças mais seguras em termos emocionais.

Muito mais se poderá conversar sobre estas questões, mas foi um pouco neste sentido a minha colaboração na peça do Público.

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