terça-feira, 6 de abril de 2021

DA RECUPERAÇÃO DAS APRENDIZAGENS

 A leitura das inúmeras notícias que nos últimos dias têm surgido sobre a educação tem sido um exercício extraordinariamente estimulante, mas muito complexo.

Não me refiro às questões de saúde pública envolvidas no regresso dos 2.º e 3.º ciclos às escolas, mas ao problema na agenda, a designada “recuperação das aprendizagens” dos alunos em resultado dos períodos de confinamento e do ensino não presencial.

Vou tentar elaborar uma síntese, recorrendo a excertos de diferentes notícias e à memória.

Para começar e para assustar já ouvi referências a “gerações perdidas” de alunos o que evidentemente não tem sentido pois esquece o efeito de intervenções de avaliação e apoio competentes e adequadas.

As múltiplas referências vão em todos sentidos, “A escola só é escola quando funciona presencialmente”, (recuperação das aprendizagens), “Nada que não se faça, com vontade de trabalhar tudo se alcança.” Adjunto de Direcção escolar (Público).

Filinto Lima afirma no DN, "daqui a pouco vamos ter um boom de computadores". Fica resolvido o problema levantado pelo Público. “Escolas identificaram mais 5 mil alunos sem condições para aulas à distância durante o 2.º período”.

O Ministério criou um Grupo de Trabalho para a elaboração de Plano de Recuperação das Aprendizagens até 2023. Recordo que no início deste ano lectivo foi estabelecido um período de recuperação das aprendizagens com cinco semanas, o próximo terá dois anos lectivos, com que critérios estão estabelecidos estes períodos? Só avaliações cuidadas e competentes das escolas poderão definir as intervenções e o tempo compatíveis com a diversidade que as diferenças entre os alunos e o impacto avaliado evidenciarão.

Menos conteúdos, pedagogias inovadoras, escolas de Verão: como recuperar as aprendizagens” título do Público numa peça em são ouvidos alguns dos integrantes do Grupo de Trabalho. Registo a inevitável referência à inovação, a estranheza pela ausência a uma “mudança de paradigma” e a insistência num programa de actividades para o Verão, após um terceiro período que directores, professores e pais “lamentam a extensão” e, cito outro título do DN, “Meio milhão volta à escola para "um período imenso" e "nada fácil" e “Diretores de escolas lamentam extensão do período letivo e antecipam dificuldades em manter níveis de concentração.”

No JN, “Diretores de escolas pedem emagrecimento de programas "obesos"” e solicitam “Mais apoios, tutorias, professores, psicólogos e terapeutas são estratégia defendida para escolas recuperarem aprendizagens dos alunos.”

Também ficámos a saber que o “Governo admite reduzir programas e não quer prolongar aulas.“ No DN lê-se que “Professores querem programas curtos, apoio aos alunos e tempo para recuperar matérias” a que na mesma peça Filinto Lima acrescenta defender “a qualidade das aulas e isso consegue-se através de um ensino mais individualizado", e "programas mais curtos, um reforço nas tutorias, apoios e coadjuvâncias".  Por outro lado, o ex-Ministro Nuno Crato, também com enorme surpresa, defende a realização de testes nacionais.

Após este conjunto de referências não exaustivo sobre os olhares sobre a “recuperação das aprendizagens” o meu maior desejo era mesmo que as “aprendizagens por recuperar” se entendessem com os alunos de modo a ficarem, por assim dizer, amigos. É que correm o risco de dificilmente se entenderem e  vir a sentir muitos sobressaltos neste estranho mundo da educação que funciona em modo “cada cabeça, sua sentença” e os especialistas são ainda mais que os de saúde pública. 

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