A leitura das inúmeras notícias que nos últimos dias têm surgido sobre a educação tem sido um exercício extraordinariamente estimulante, mas muito complexo.
Não me refiro às questões de saúde pública envolvidas no
regresso dos 2.º e 3.º ciclos às escolas, mas ao problema na agenda, a designada
“recuperação das aprendizagens” dos alunos em resultado dos períodos de confinamento e do ensino não presencial.
Vou tentar elaborar uma síntese, recorrendo a excertos de
diferentes notícias e à memória.
Para começar e para assustar já ouvi referências a “gerações
perdidas” de alunos o que evidentemente não tem sentido pois esquece o efeito
de intervenções de avaliação e apoio competentes e adequadas.
As múltiplas referências vão em todos sentidos, “A escola
só é escola quando funciona presencialmente”, (recuperação das
aprendizagens), “Nada que não se faça, com vontade de trabalhar tudo se
alcança.” Adjunto de Direcção escolar (Público).
Filinto Lima afirma no DN, "daqui a pouco vamos ter
um boom de computadores". Fica resolvido o problema levantado pelo
Público. “Escolas identificaram mais 5 mil alunos sem condições para aulas à
distância durante o 2.º período”.
O Ministério criou um Grupo de Trabalho para a elaboração de
Plano de Recuperação das Aprendizagens até 2023. Recordo que no início deste ano
lectivo foi estabelecido um período de recuperação das aprendizagens com cinco
semanas, o próximo terá dois anos lectivos, com que critérios estão estabelecidos
estes períodos? Só avaliações cuidadas e competentes das escolas poderão
definir as intervenções e o tempo compatíveis com a diversidade que as
diferenças entre os alunos e o impacto avaliado evidenciarão.
“Menos conteúdos, pedagogias inovadoras, escolas de
Verão: como recuperar as aprendizagens” título do Público numa peça em são ouvidos
alguns dos integrantes do Grupo de Trabalho. Registo a inevitável referência à
inovação, a estranheza pela ausência a uma “mudança de paradigma” e a
insistência num programa de actividades para o Verão, após um terceiro período
que directores, professores e pais “lamentam a extensão” e, cito outro
título do DN, “Meio milhão volta à escola para "um período
imenso" e "nada fácil" e “Diretores de escolas lamentam
extensão do período letivo e antecipam dificuldades em manter níveis de
concentração.”
No JN, “Diretores de escolas pedem emagrecimento de
programas "obesos"” e solicitam “Mais apoios, tutorias,
professores, psicólogos e terapeutas são estratégia defendida para escolas
recuperarem aprendizagens dos alunos.”
Também ficámos a saber que o “Governo admite reduzir programas e não quer prolongar aulas.“ No DN lê-se que “Professores
querem programas curtos, apoio aos alunos e tempo para recuperar matérias”
a que na mesma peça Filinto Lima acrescenta defender “a qualidade das aulas
e isso consegue-se através de um ensino mais individualizado", e "programas
mais curtos, um reforço nas tutorias, apoios e coadjuvâncias". Por outro lado, o ex-Ministro Nuno Crato, também com enorme surpresa, defende a realização de testes nacionais.
Após este conjunto de referências não exaustivo sobre os
olhares sobre a “recuperação das aprendizagens” o meu maior desejo era mesmo
que as “aprendizagens por recuperar” se entendessem com os alunos de modo a ficarem,
por assim dizer, amigos. É que correm o risco de dificilmente se entenderem e vir a sentir muitos sobressaltos neste
estranho mundo da educação que funciona em modo “cada cabeça, sua sentença” e
os especialistas são ainda mais que os de saúde pública.
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