Foi recentemente divulgado o estudo "A Pobreza em Portugal – Trajectos e Quotidianos", da Fundação Francisco Manuel dos Santos que analisa a pobreza em Portugal,
Os indicadores de pobreza são preocupantes atingindo mesmo
pessoas com emprego estável, um terço das pessoas que vivem abaixo do limiar de
pobreza estão empregadas.
A pobreza tem claramente uma dimensão estrutural e
intergeracional, as crianças de famílias pobres demorarão até cinco gerações a
aceder a rendimentos médios, um indicador acima da mádia europeia.
A escola é certamente uma ferramenta poderosa de promoção de
mobilidade social, mas, por si só, dificilmente funciona como elevador social.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das
crianças, em particular no rendimento escolar e comportamento, é por demais
conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores
de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de
carências significativas ao nível das necessidades básicas. Em qualquer parte
do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e mais provavelmente vão
continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a
assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da
educação. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”, será o destino.
É verdade que com muita frequência a escola distribui
refeições a crianças e ainda bem que o faz. No entanto, não compete à escola a
resolução de questões estruturais nas quais radica a pobreza continuada nem o
providenciar de necessidades básicas às crianças.
Assim, ou nos concertamos na exigência a alterações nos
modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto quanto possível, equidade
e um combate eficaz à exclusão com a consequente alteração nas políticas
públicas, ou ciclicamente nos confrontamos com indicadores desta natureza.
Não, não é destino que os filhos dos filhos dos filhos, dos
filhos das famílias pobres continuem pobres. Se assim acontece e continuar a
acontecer é a falência das políticas públicas e dos que por elas são
responsáveis.
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