Um dia destes aconteceu-me, mais
uma vez, ficar envolvido numa conversa sobre a recorrente ideia da
"ignorância da juventude".
Confesso que já não tenho grande
paciência para esta discussão.
Eu fui ignorante para a geração
do meu pai, que foi ignorante para a geração do pai dele que ... etc. É
verdade, antes que me esqueça, a geração do meu filho é mais ignorante do que a
minha, claro.
Esta definição de ignorância a
partir do que alguém define como o "saber", é razoavelmente
disparatada e não passa de um fait-divers. A questão mais curiosa, do meu ponto de vista, é que cada
vez que se faz este tipo de discursos se dá um tiro pé, ou seja, a alegada
ignorância dos mais novos é, obviamente fabricada pela geração (mais
"culta" evidentemente) que os educa e forma.
Do meu ponto de vista, a questão
mais importante e não é um exclusivo dos mais novos, longe disso, é o tempo
light que atravessamos. Tempo light na cultura, tempo light nos valores, tempo
light na relação entre as pessoas, tempo light também na relação com o saber,
etc.
Ainda a propósito do saber e da
ignorância, também me parece curioso chamar a atenção para a profunda
ignorância que muitos opinion-makers, já nada novos aliás, demonstram quando se
propõem falar do que não sabem, e todos os dias temos bons exemplos. Curiosamente
falam de tudo, são uns “tudólogos”, acham que sabem, são uns achistas que só
produzem achismos.
A minha vida passa pelo contacto
regular com jovens universitários e sempre encontro gente que sabe e mostra que
sabe mesmo quando o saber é diverso como sempre será.
Como disse, não há saco para
estas coisas.
Recordo Bateson nos seus
Metadiálogos “Conheci uma vez em Inglaterra um rapazinho que perguntou ao
pai: “Os pais sabem sempre mais que os filhos?”, e o pai respondeu: “Sim.” A
pergunta seguinte foi: “Pai, quem inventou a máquina a vapor?”, e o pai disse:
“James Watt.” Então o filho respondeu: “Mas então porque é que não foi o pai
dele que a inventou?”
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