quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

AS PALAVRAS QUE OFENDEM

 É só mais um exemplo e grave. O opinador Camilo Lourenço, um manhoso vendedor de agendas, escreveu num texto do Jornal de negócios que a Ministra da Saúde é “mesmo autista”. O Camilo não percebe e não vai perceber que “autista” não é um termo que se deva usar de ânimo leve e ignorante para apreciar comportamentos. Seria pedir demais ao escriba, também não iria perceber o quadro ético e de valores que inibe tal comportamento, manifestamente não saberia do que se estaria a falar.

A verdade é que de há algum tempo para cá entrou no léxico comum da cena política uma terminologia vinda da área da saúde mental com efeitos que ainda não foram avaliados. Alguns exemplos. É muito frequente a referência a estados de depressão, o país está deprimido, os mercados estão deprimidos, algumas regiões portuguesas são consideradas deprimidas, etc. Diz-se com todo o à vontade que certos comportamentos políticos podem ser suicidas, seja de pessoas ou de partidos. Inventaram um quadro de claustrofobia democrática, seja lá isso o que for. Não há opinador, amador ou profissional, que não se refira a autismo, autista ou esquizofrénico para adjectivar discursos e comportamentos políticos. Aliás, deve recordar-se que a Assembleia da República aprovou há tempos, sem grande resultado aparentemente, uma moção no sentido de se não utilizar tal terminologia nos debates parlamentares. Multiplicam-se as referências a pessoas que assumem compulsivamente estratégias de vitimização, a comportamentos obsessivos ou alucinados, etc. Abundam as análises que sublinham a grave baixa auto-estima dos portugueses.

Toda esta linguagem é usada como o maior à vontade.

Recordo que, creio que em 2016, a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo do Douro entendeu por bem apresentar queixa pela utilização em duas novelas de referências ao autismo de forma depreciativa. No entanto, a Entidade Reguladora da Comunicação Social entendeu que o uso da palavra “autista” não é ofensivo. É elucidativo.

No final de 2015 a associação BIPP (Banco de Informação de Pais para Pais) – Inclusão para a Deficiência desencadeou uma campanha de sensibilização que visava inibir o uso de expressões como “deficiente mental” ou “atrasado mental” como insulto ou para censurar determinados comportamentos humanos. A campanha intitulava-se “Ser deficiente não é um insulto” e tinha como objectivo que o recurso a esta terminologia alimenta ou promove comportamentos de exclusão social dos cidadãos com deficiência.

Na verdade, para além das expressões citadas remetendo para o universo da deficiência, são também usados com demasiada regularidade termos próprios da área da saúde mental, esquizofrenia ou autismo, por exemplo, para adjectivar comportamentos e discursos em particular na vida política.

Dito de outra forma, a condição de deficiência, de doença mental ou de qualquer outra dimensão de vulnerabilidade é utilizada como insulto sendo que este comportamento é recorrente mesmo em pessoas com responsabilidade de natureza pública e social de relevo o que agrava o seu já inaceitável uso.

Sem querer assumir uma posição "politicamente correcta" este uso e abuso incomoda-me. Creio que ignora e ofende o sofrimento das pessoas e das famílias que lidam com quadros clínicos, de desenvolvimento ou de funcionalidade desta natureza. A decisão em tempos tomada pela Entidade Reguladora da Comunicação Social foi lamentável.

No entanto, este é apenas mais um exemplo das palavras que ofendem e que tão frequentemente ouvimos.

2 comentários:

Unknown disse...

O meu unico comentário é sobre Camilo Lourenço e só quero referir que esse senhor é um dos maiores exemplos de incompetência demonstrada, provada e comprovada. É um homem partidário no seu trabalho, o que o descredibilizou totalmente. Além de que comprovadamente é mais agourento do que economista.

Unknown disse...

O meu unico comentário é sobre Camilo Lourenço e só quero referir que esse senhor é um dos maiores exemplos de incompetência demonstrada, provada e comprovada. É um homem partidário no seu trabalho, o que o descredibilizou totalmente. Além de que comprovadamente é mais agourento do que economista.