quarta-feira, 8 de julho de 2015

OS PROFESSORES QUE NOS MARCARAM

O I de hoje tem um trabalho interessante sobre os “professores que deixaram marcas”, positivas, é claro. São mostrados alguns depoimentos que ilustram a boa memória que muitos professores deixaram.
Para além dos aspectos mais directamente ligados à actividade escolar e à construção e descoberta do saber, dos saberes, essa marca positiva é impressa em nós sobretudo através da relação que connosco mantiveram esses professores.
Nas minhas conversas por aí sobre estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes pergunto porquê as justificações remetem muito significativamente para a relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas da escola”.
Na verdade a profissão de professor tem esse princípio fundador, assenta na relação que se operacionaliza na comunicação. Por isso são também preocupantes os tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar, para conversar com os alunos. A pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número de alunos por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala com o programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é preciso falar mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são. Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores é pelo que eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha tido.
A este propósito uma pequena história. Há uns tempos, num trabalho com professores numa cidade do interior, uma Professora daquelas a sério contava que tinha uma experiência muito interessante com uma turma CEF, as dos "alunos de segunda" como muitas vezes são vistas. A professora comentava com os miúdos como estava satisfeita com as mudanças positivas que eles apresentavam e perguntava a que se deviam.
Um dos miúdos, o "chefe", respondeu "sabe, boceses gostam da gente, e a gente gosta de boceses". Quando nos contou isto a professora não escondeu uma lágrima.
O Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém tinha sido seu professor justificava, "porque foi meu amigo".
São assim os professores que nos marcaram. Pela positiva, evidentemente.

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