sexta-feira, 24 de julho de 2015

A HIPERVALORIZAÇÃO DOS EXAMES, UMA POLÍTICA FACILITISTA

Não tenho nenhum princípio fundamentalista contra a avaliação externa, antes pelo contrário, considero-a uma ferramenta importante
No entanto, tenho dificultar em compreender a sua existência no 1º ciclo, as provas aferidas cumpriam o papel de regulador do sistema. Não será certamente o acaso ou a incompetência a explicar a raridade da sua existência na generalidade dos países.
No entanto, entender que os exames, quanto mais melhor, só por existirem são fonte de qualidade, parece decorrer da estranha convicção de que se medir muitas vezes a febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.
Como não se pode racionalmente falar de ingenuidade, trata-se de uma medida “facilitista”, instituem-se os exames, muitos exames, estes passam a ser o tudo na vida da escola, dos professores e dos alunos e as aprendizagens melhorarão. Para que tudo funcione conforme o script gere-se politicamente a dificuldade dos exames, o próprio Presidente do Conselho Científico do IAVE o reconhece, e fecha-se o círculo, os exames são a panaceia para as fragilidades do sistema e validam a bondade das políticas. Será?
Não, não é importa perceber como se está a processar a avaliação interna em muitas escolas nos anos em que não existem exames, a retenção sobe filtrando os alunos paa que não contaminem os resultados nos exames, o critério para os "prémios" do MEC noutro efeito perverso e pouco competente da sua utilização. 
Como tantas vezes afirmo, a qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de promover qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
Estas medidas podem, devem, coexistir com a avaliação externa e aí teríamos uma avaliação certificadora, reguladora e integrada nos processos de ensino e aprendizagem.

3 comentários:

Ana disse...

Tenho muita dificuldade em discernir qual das duas medidas é a mais nefasta para a qualidade do ensino-aprendizagem: se a hipervalorização dos exames, se a hiperlistagem de conteúdos por ano de escolaridade/disciplina, vulgo metas curriculares, que transforma cada novo ano escolar numa alucinante ida a um, dois, três... hipermercados, consoante o número de disciplinas e níveis que o mesmo professor lecione, numa correria contrarrelógio, onde terá de percorrer todas as prateleiras para retirar produtos, com os quais deverá confecionar uma ementa de sucesso, única, para um número considerável de comensais, dos quais poderão fazer parte diabéticos, hipertensos, hipercolesterolémicos, obesos, anoréticos, intolerantes à lactose ou com outra intolerância qualquer, que terão de sobreviver a todo o excesso alimentar, beneficiando de um atendimento personalizado, quer tenham um metabolismo adequado ou não e, pior ainda, comprovar ao chefe a qualidade das iguarias em momento de apreciação externa da confeção, mesmo que as tenham vomitado quase todas ao longo desse tempo.
Apesar do "nonsense" de tudo isto, os exames fazem menos estragos, creio eu, até no primeiro ciclo onde são uma verdadeira doença obstrutiva, que surge numa calendário completamente insano.

Zé Morgado disse...

Concordo Ana,, tenho escrito e afirmado muitas vezes, as metas curriculares, tal como estão definidas, (998 para Portguês no Básico, 703 para Português e Matemática no 1º ciclo), são parte do problema e não da solução.

Anónimo disse...

Tudo isto é simples relativamente às metas! Aliás, 'aprendi'uma nova pedagogia na escola onde me encontro a lecionar e que é a que ouço mais vezes: 'Já dei isto ou já dei aquilo'!Sim porque o importante é cumprir o que se encontra definido nas metas ou nos programas com o respetivo reflexo nas planificações. Infelizmente para os alunos, nunca ouço esta brilhante afirmação: 'Os alunos aprenderam isto ou aquilo'! Porquê? Porque isso é impeditivo de cumprir as listas de conteúdos elencadas nas metas, qual lista de compras. Quanto aos exames, penso que são válidos e que têm, de alguma forma, contribuído para a melhoria da aquisição e aplicação de conhecimentos - no entanto, há que relativizar esta melhoria, não enfatizando desmesuradamente a sua importância como tem acontecido até aqui.