sexta-feira, 17 de julho de 2015

COPY, PASTE

O caso foi denunciado, investigado pela Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, o plágio foi reconhecido incluindo pela autora e o resultado foi, “arquive-se", pelo que a Senhora Directora continua em exercício. O crime compensa.
Na verdade o episódio não traz nada de novo nos tempos que vivemos em que padrões éticos e deontológicos estão revistos em baixa. Algumas notas repescadas.
Recordo um estudo da Universidade Coimbra que, creio, estar anda em curso, cujos dados já conhecidos sugerem uma forte predisposição de alunos do ensino superior para a fraude académica. Alguns dados, 44% dos alunos inquiridos admitiram que copiariam num exame, 52% admitiram que copiariam por um colega, 73% apresentariam o mesmo trabalho em diferentes disciplinas e 65,3% "ajudaria" um colega num exame. É ainda interessante que 37.6 % dos inquiridos aceita a fraude desde que “não prejudique ninguém”.
Merece ainda registo um estudo da Universidade do Minho sugerindo que as situações de algum tipo de “copianço” envolvem três em cada quatro estudantes.
Também um estudo da Universidade Católica de Braga envolvendo sete países sobre as questões do plágio, segundo o qual, entre 40 e 60% dos alunos do ensino secundário admitiram ter recorrido a tal procedimento.
De facto, o plágio é um dos tipos de fraude académica mais em alta também no ensino superior, realidade que conheço melhor, mas não só, a título de exemplo já tive textos do blogue plagiados. Considerando o volume crescente de situações muitas instituições têm vindo a adoptar dispositivos de despiste e regulamentos que minimizem o risco de tais práticas.
É verdade que de há uns tempos para cá, felizmente, tem vindo a emergir e entrar na agenda a questão da utilização da informação disponível, designadamente na net, na produção fraudulenta ou nos limites da ética de trabalhos académicos e científicos da mais variada natureza. Neste âmbito, conheceu-se o primeiro caso, creio, em Portugal de uma Tese de Doutoramento apresentada na Universidade do Minho e anulada por motivo de plágio. Este tipo de comportamentos e os discursos produzidos sobre eles em todos os níveis de ensino, do básico à formação pós-graduada, doutoramentos incluídos, bem como artigos científicos, remete, creio, para a natureza da relação ética que estabelecemos com o conhecimento e que os alunos replicam. Aliás, no estudo da U. do Minho, dos alunos que admitiam copiar, 90 % afirmavam fazê-lo desde sempre.
Recordamos também que o Secretário de Estado da Educação, João Granjo também se demitiu o ano passado devido a uma situação de plágio.
O conhecimento será entendido como algo que se deve mostrar para justificar nota ou estatuto, não para efectivamente integrar, ou seja, importante mesmo é que a nota dê para passar, que o curso se finalize, que a tese fique feita e se seja doutorado ou que se possa acrescentar mais um artigo à produção científica num mundo altamente competitivo, ou, que se alinhave uma comunicação com material que não se produziu e do qual não se identifica a fonte.
Que tudo isto possa acontecer à custa da manhosice, do desenrasca mais ou menos sofisticado, são minudências com as quais não podemos perder tempo. O comunicado do MEC sobre esta caso é um bom exemplo desta atitude.
Não sendo um exclusivo do sistema educativo constitui uma preocupação séria e justifica que as escolas, do básico ao superior, se envolvam na tentativa de que todos tenhamos uma relação sólida do ponto de vista ético com o conhecimento, a sua produção e divulgação.
O caminho passa pelo estabelecimento obrigatório de códigos de conduta com implicações sancionatórias severas e com uma atitude formativa e preventiva e próxima dos alunos durante as aulas, como aliás o estudo agora conhecido sugere.
O trabalho será sempre difícil pois o actual contexto ao nível dos valores e da ética dos comportamentos e funcionamento social é, só por si, um caldo de cultura onde o copianço e o plágio, por vezes, não passam de "peanuts".
É a cultura do desenrascanço, não importa como.

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