quinta-feira, 26 de maio de 2011

UMA HISTÓRIA ESTRANHA

Não me apercebi muito bem como começou, mas de mansinho tiro os olhos do jornal que estava a ler e vou deixando que a atenção se fixe na televisão e no início do debate, anunciado segundos antes, entre os líderes dos principais partidos concorrentes às eleições que se aproximam.
A estranheza da história começa quando no ecrã vejo uma mesa com seis miúdos e miúdas, treze catorze anos não mais, vestidos, eles à "homenzinho", elas, naturalmente, à "mulherzinha". Um dos gaiatos era o moderador, deu para perceber quando apresentou os intervenientes.
A estranheza continuou, aí eu já estava definitivamente agarrado ao ecrã e o jornal caídos aos pés, quando começo a ouvir, a propósito de cada tema introduzido pelo moderador, cada um dos miúdo a apresentar serenamente ideias e propostas sobre as quais os outros participantes a discutiam com a maior tranquilidade conseguindo, para espanto meu, discutir as ideias e propostas em vez de se discutirem a si mesmos, sempre sem elevar a voz e com a maior cordialidade. O moderador nunca referiu tempos utilizados por cada um, limitava-se a introduzir os temas deixando que a conversa fluísse com calma.
O debate prolongou-se por bastante tempo e eu continuava a atento, concordando e discordando com o que ia ouvindo mas percebendo sem grande esforço as diferenças e semelhanças entre as várias perspectivas em apreço.
Quando acabou, fiquei a pensar que afinal deixaria a minha cómoda condição de absentista e iria votar nas propostas que tinha ouvido e que, do meu ponto de vista, melhor serviriam o país.
Os miúdos, todos, tinham sido claros e estavam muito bem preparados.
De repente, sou acordado pelo toque do telefone poisado à minha beira.
Enquanto atendia continuava com uma sensação entre o embaraço culpabilizante e uma ideia ainda mais estranha. Se ouvíssemos mais os miúdos talvez a coisa fosse um bocadinho diferente.

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