sábado, 28 de maio de 2011

TENHA PACIÊNCIA

Quando atentamos nos discursos anónimos dirigidos às dificuldades que enfrentamos parece emergir algum conformismo que pode ser sinónimo de desesperança ou resignação No entanto, algumas vozes alertam para a possibilidade de que este aparente conformismo se altere de forma turbulenta e com consequências imprevisíveis.
Esta atitude paciente recordou-me alguns episódios da minha infância que ainda agora me causam alguma perplexidade.
Na zona onde na altura habitava, era relativamente frequente que pessoas nos batessem à porta para, numa humilhante circunstância, pedir esmola, o mais degradante dos pedidos.
Nessa altura, sem a actual paranóia securitária que os tempos actuais determinam, ainda eram as crianças que acudiam a ver quem era. Eu assim fazia. E depois de verificar que era “um pobrezinho” (o tal tranquilizante diminutivo a que já uma vez me referi aqui no Atenta Inquietude) avisava a minha mãe. Sem eu nunca conseguir entender com que critérios, ela decidia dar ou não dar esmola, em dinheiro ou géneros. Mas a minha grande perplexidade, que se mantém até hoje, tem a ver com o facto de que, quando decidia não ser caridosa, a minha mãe mandava-me de volta para dizer ao pobrezinho “tenha paciência”. Devo dizer que ainda hoje esta memória me deixa embaraçado. Então o homem, ou mulher, não tem que comer, não tem trabalho, não leva ajuda ou apoio e ainda tem que ter paciência. É extraordinário como até como caridade se oferecia conformismo.
Será que é possível esperar que as pessoas a quem roubaram a dignidade, cuja vida se transformou numa luta diária pela sobrevivência e com um horizonte centrado no amanhã, manterão a paciência que, no fundo, os outros, nós, esperamos que mantenham?
A bem da tranquilidade, é claro.

1 comentário:

anónimo paz disse...

De 1139 até 1910 tivemos dinastias parasitas... e o povo a mendigar.
De 1910 até 1974 fomos assolados por repúblicas sugadoras e gastadoras da riqueza que o povo produzia... e o povo a mendigar.
A seguir vieram os BOYS, compadres, amigos, ministros, secretários de estado,familiares desta gente toda rapando os tachos que há para rapar... e o povo a mendigar.
Somos mendigos de origem e o mais grave é que não o reconhecemos e fazemos grandes figuras de gente abastada e BEM GOVERNADA.
No nosso ADN temos MOLÉCULAS de PACIÊNCIA para aturar estes políticos finórios e velhacos (peço perdão pelo desvario).

Sem ter chicote nem vara
Manda-me a minha razão
Atirar versos à cara
Dos que me roubam o pão

Rouba muito que, de resto,
Terás um bom advogado
Que prova que és mais honesto
Que propriamente o roubado

Quando a noção do dever
Nos der ampla liberdade,
Acabará por esquecer
A palavra "caridade"

A fome,a dor, a tristeza
São por nossa infelicidade
O preço por que a pobreza
Paga a sua honestidade.

Do poeta do sofrimento e da pobreza
António Aleixo

saudações