domingo, 1 de maio de 2011

PROFESSORES E EDUCAÇÃO. Cartas de Helsínquia

A entrevista no Público de hoje realizada a Jouni Välijärni, director do Instituto Finlandês de Investigação em Educação, mostra algumas ideias interessantes e que ajudam a compreender, por um lado, os níveis de sucesso do sistema educativo finlandês e, por outro, a identificar alguns dos constrangimentos e dificuldades no nosso sistema.
Sem uma preocupação de hierarquizar sublinho alguns desses aspectos.
Em primeiro lugar, sublinha-se presença de professores empenhados e qualificados que decorrem da valorização social e prestígio atribuídos pela sociedade finlandesa aos professores, designadamente aos dos primeiros anos, onde tudo se joga. O Professor Jouni ilustra o prestígio da classe com a afirmação de que ser professor é algo desejado pelas famílias para os seus filhos. Este é um primeiro contraste com a realidade portuguesa pois, refiro-o aqui muitas vezes, nos últimos tempos temos vindo a assistir uma degradação da imagem social dos professores decorrente de alguma políticas educativas, do peso da opinião publicada por alguns tudólogos ignorantes e por práticas e discursos de elementos representantes dos próprios professores. Esta degradação da imagem dos docentes tem efeitos devastadores na qualidade do seu trabalho e na relação com alunos e pais.
Uma outra nota importante, o baixíssimo nível de chumbos dos alunos finlandeses, situação que a acontecer, defende o Professor Jouni, deverá ser fundamentalmente nos primeiros anos de escolaridade, a tempo, portanto de sustentar percursos mais sólidos e bem sucedidos. Esta visão também contrasta com a ideia muito defendida por parte da opinião publicada em Portugal, ignorante e demagógica, que defende o aumento dos chumbos sob a argumentação de combater o chamado facilitismo o que é, digo-o muito frequentemente, um enorme equívoco. Temos um nível altíssimo de chumbos e não é chumbando mais que se aumenta a qualidade no sistema.
Terceira nota prende-se com a organização do percurso escolar que assenta na estabilidade. O mesmo professor, coadjuvado ou não, acompanha o mesmo grupo de alunos durante seis anos. Parece dispensável explicar a vantagem deste modelo, mas é de referir que em Portugal, os alunos podem ter o mesmo professor durante 4 anos e ao 5º ano de escolaridade passam a ter quase 10 professores diferentes para diferentes disciplinas, situação completamente insustentável. Por outro lado, apesar de nos últimos anos se ter aumentado os níveis de estabilidade dos docentes, o sistema ainda permite mudanças excessivas que promovem mudanças dos docentes além de que muitas medidas de política educativa têm também contribuído para aumentar a instabilidade do trabalho desenvolvido nas escolas.
O espaço é naturalmente limitado mas creio que estas notas ajudam a perceber muito do que se passa no sistema educativo português tendo, neste caso, como comparação o modelo finlandês.
Para terminar, volto à ideia inicial, a importância de um professor preparado e motivado. Cito com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children, "o factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência de um professor qualificado e empenhado". Esta ideia foi há pouco tempo também defendida em Lisboa pelo Professor Erik Hanushek, que considerou o factor "qualidade do trabalho do professor" como a chave do sucesso na educação, mesmo no sentido de contrariar desigualdades sociais de origem dos alunos.

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