terça-feira, 24 de maio de 2011

OS RESIGNADOS TRANSPARENTES

Devo confessar que fiquei verdadeiramente impressionado com um dado divulgado hoje e que, aliás, comentei num outro texto aqui deixado. Cerca de 200 000 pessoas terão deixado de procurar emprego, estão inactivas e não entram nas estatísticas do desemprego, a tal percentagem que a sondagem nunca mostra.
A maioria desta pessoas são mulheres e esta situação de inactividade parece decorrer, sobretudo da idade e das baixas qualificações.
Esta franja enorme de resignados, de desistentes, de pessoas a quem a vida roubou a dignidade constitui um verdadeiro murro no estômago, embora o nosso estômago vá ficando progressivamente mais resistente.
Estas pessoas que sabemos existir, mas não conseguimos identificar, têm, como outros grupos, a condição de transparentes sociais, o nosso olhar varre a paisagem humana à volta sem os distinguir.
Alguns relatos são absolutamente dramáticos e mostram como a perda da dignidade, alimenta a desesperança e a queda para dentro de si, no meio de todos. Mas são transparentes, já nem dos números constam.
No meio deste quadro emerge uma revoltante cacofonia circense, chama-se campanha eleitoral, em que aqueles que se propõem governar-nos se entretêm com minudências e umbiguismos pessoais de luta pelo poder que é mais uma pedrada na dignidade ferida ou roubada de milhares, muitos milhares, de portugueses.
Esta gente, os resignados transparentes, já nem tem, como diria o Sérgio Godinho no "Romance de um dia na estrada", um dia fraco, outro forte, só tem tempos fracos.
Só lhes resta mesmo, um dia a menos para a morte.

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